Ripley Subterrâneo
Segundo livro da série Ripley tem boas passagens, mas não consegue ser tão atrativo como a obra inaugural
Foi preciso pouco mais de uma semana para escrutinar “Ripley Subterrâneo”, segundo livro da série idealizada pela notável Patricia Highsmith. Já nas primeiras linhas, esperava pelo novelo criminal tecido pelo mais insigne personagem ideado pela autora estadunidense, nada menos que o ponto fulcral relacionado ao âmbito o qual alcançou mais destaque: o romance policial.
“Ripley Subterrâneo” invadiu as prateleiras das livrarias em 1970, com o apelo de ser o tão aguardado retorno de Tom Ripley após um hiato de 15 anos. A saga foi inaugurada com o ótimo “O Talentoso Ripley” e os três livros, posteriores ao segundo, são “O Jogo de Ripley” (1974), “O Garoto que Seguiu Ripley” (1980) e “Ripley Debaixo D’Água”. O título derradeiro, lançado em 1991, encerra uma excelsa jornada literária que durante mais de 35 anos percorreu os tortuosos caminhos da sombria psique humana.
Seis anos se passaram após os eventos de “O talentoso Ripley” e muitas coisas mudaram durante o período. Tom Ripley já não é mais apenas um na multidão. O perspicaz assassino parece ter encontrado seu lugar ao sol, unindo-se em matrimônio com Heloise, jovem herdeira de uma fortuna, passou a gozar a tão almejada estabilidade financeira. Além de viagens e muito requinte por todas as partes da Europa, parte da vida decorria em uma vultosa residência na França.
Como certas coisas nunca mudam, o passado criminoso ao que parece não ficou inteiramente para trás. O principal deles envolve um ardiloso esquema de falsificação centrado em um artista plástico já falecido. No entanto, o plano passa por um momento de instabilidade quando um colecionador não hesita em apontar sua desconfiança quanto a autenticidade de uma obra recente. Tamanha turbulência leva Tom a traçar um minucioso plano que além de lhe fazer passar por outra pessoa, pode até abranger a consumação de um assassinato para a fraude ser mantida em sigilo.
Alguns leitores sustentam que em “Ripley Subterrâneo” Patricia Highsmith aposta em uma fórmula muito semelhante ao primeiro livro, havendo até a inserção de novos personagens, com eles surgindo como um aspecto disforme em uma correlação entre as duas obras. Não necessariamente corroboro com esse ponto de vista, embora alguns elementos realmente se assemelhem um pouco. O segundo capítulo da saga possui certa identidade e apelo, com personagens complexos e bem delineados, aliado a precisão narrativa da autora. Em contrapartida, embora o livro esteja longe de ser ruim, certamente fica bastante aquém do ótimo “O Talentoso Ripley”.
Através da narrativa, é possível um vislumbre de um Ripley como uma persona bem menos calculista, como se o brilhantismo ostentado no livro anterior, inexplicavelmente, ficasse para trás. A trama, por sinal, se mostra até um tanto cansativa em algumas passagens, longe de alcançar o mesmo efeito do sublime livro anterior.
Nas primeiras páginas, a história mostra-se bastante promissora. Aos poucos, a narrativa parece ir se perdendo e, até alcançar o desfecho, alguns elementos são simplesmente renegados a um segundo plano ou, literalmente, acabam deixados de lado. Se a leitura não necessariamente faz com que percamos a vontade de embarcar no terceiro capítulo da saga, também em momento algum alimenta um súbito desejo de prosseguir.
Fica, portanto, a inconveniente (ao menos para mim) sensação de que Patricia Highsmith possa ter subestimado um pouco o leitor durante o desfecho de “Ripley Subterrâneo” ou quem sabe tenha entrado no automático por deixar tantas lacunas abertas. O segundo capítulo é mais decepcionante do que ruim e provavelmente acrescenta pouco ao universo literário do carismático assassino. Embora não tenha encarado ainda os três títulos posteriores, quase posso assegurar que esse segundo seja o ponto langoroso da tão imponente saga.