A sabedoria do processo

Como psicólogo tenho percebido o quanto temos tido dificuldade para respeitar o tempo das coisas. Ainda não sei ao certo como isso tem se dado, mas acredito que parte da explicação possa ser encontrada no mundo cada vez mais tecnológico no qual vivemos. Hoje, basta digitar, e você encontra respostas para as suas dúvidas em menos de um segundo. E, caso esteja impaciente para assistir ao vídeo que seu professor recomendou, é muito simples, aumente a velocidade e seja feliz! Facilidades que são sim atrativas, mas que ao mesmo tempo representam um perigo curioso: é como se quiséssemos que a vida também se apressasse, que conquistássemos logo nossos sonhos, que passássemos logo pelas experiências e que chegássemos logo ao nosso destino. Isso é perigoso primeiro porque é uma ilusão e toda ilusão nos lança à amargura da frustração. E, em segundo lugar, é perigoso por abreviar a vida: não que o tempo passe realmente mais rápido, mas ficamos tão distraídos por tantas coisas que queremos viver que a sensação é de que o tempo voa, enquanto que somos nós que estamos “avoados”.

E respeitar o tempo das coisas é uma sabedoria que precisamos desenvolver, urgentemente! Percebi isso também recentemente. Foi quando eu estava editando um vídeo. Era sobre uma reflexão que produzi. A produção do vídeo demorou, sem mentira, pouco mais de duas horas para um vídeo que não tem nem cinco minutos… Em um primeiro momento eu fiquei me indagando: será que vale a pena tanto trabalho por algo tão breve? Porque o fato é que, comparado às duas horas de criação, o vídeo é bastante curto. Mesmo que o resultado tenha sido satisfatório. E mesmo que eu já o tenha assistido dezenas de vezes por ter gostado de como ficou… Mas, então, pensei um pouco mais e me dei conta de que aquelas duas horas passaram tão rápido… Eu estive tão engajado, tão envolvido, tão presente no que fazia que nem mesmo fiquei cansado, pelo contrário, estava energizado quando terminei o que estava fazendo. Sabe o que isso significa? Significa que, mesmo que você coma em dez minutos aquele prato que levou três horas para ser preparado, aquelas três horas o envolveram e o levaram a estar presente em sua vida, consciente, atento ao que fazia, ao que precisava fazer, totalmente entregue a algo que, enquanto acontecia, era tudo o que importava, deixando de lado tudo o que não fazia sentido. O processo pode ser longo para um resultado tão efêmero, mas é ele que nos desenvolve e capacita, é ele que nos faz sentir a vida acontecer. O vídeo pronto é só isso mesmo: um vídeo pronto. Mas o processo para a sua criação foi algo que me trouxe prazer, satisfação e envolvimento. Os processos da vida trazem isso consigo. Ainda que sejam longos. Não se apresse. Nem se desespere. O vídeo será assistido em cinco minutos. E o almoço será terminado em dez… Mas eles são apenas aquela cerejinha final depois de todo um período conectado a algo que lhe importava. E é isso o que nos falta: maior conexão com o presente para uma maior abertura ao que o futuro nos reserva!

(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)