A Sabedoria do Nosso Universo.

Hoje sai do meu lugar de origem para sentar à beira da calçada, atento observava cada pessoa que transitavam de um lado para o outro, carros que freneticamente cortavam o trecho Luiz Tarquínio para a Imperatriz sem se importar com a seguinte cena. Ao meu lado um senhor com a aparência de ter seus sessenta e cinco anos futucava o lixo a procura de ferro velho. Ele pegava uma lata de cerveja, um pet de refrigerante, velhas roupas e calçados descartados pelos moradores. De repente, ele olhou para mim, acenou com a mão, eu, prontamente balancei a cabeça em resposta, depois de pego o que lhe interessava, veio cautelosamente em minha direção:

- Boa noite...

-Boa.

- O Senhor ficaria chateado se deixasse eu ouvir um pouco essa música?..

- Não! Por que ficaria.

Ele sentou no asfalto distante de mim e ouvindo a canção seguia o ritmo com a cabeça. Olhei-o e falei:

- Por que sentou ai? Venha! Sente aqui.

Ele então falou:

- Posso...

-Claro!..

Ele se aproximou sentando no mesmo batente em que me encontrava. No seu semblante, uma certa faisca de alegria, então, perguntei:

- Gosta desse tipo de som?..

Ele respondeu:

- Sim. Essa música é de Kelly Gordon em 1969, depois por The Hollies, logo em seguida por Neil Diamond em 1970, depois, Bill Medley em 1988 que virou tema de Rambo III. Conheço.

Fiquei surpreso com a reposta dele. É incrível como nossa ignorância, assim como a minha naquele momento, nos faz pensar que um ser como esse senhor seja desprovido de cultura. Enquanto ouvíamos os variados cantores como: Deacon Blue, Rod Stewart, U2, Sinéad O'Connor, Phenomena II, entre outros, ele falava sobre cada uma das músicas, coisas que até eu mesmo desconhecia, coisas sobre o que se passava na nossa atualidade e dava seu parecer, falava sobre sua família ao mesmo tempo que chorava, lembrava de um tempo promissor até a queda atual, buscava uma razão para a falta de razão do momento, entendia, mas, não quis entender o porquê.

Depois de um longo desabafo entre risos e lágrimas ele pediu licença, levantou e sai com o mesmo acanhamento com que chegou, eu por minha vez, boquiaberto, sem ter argumentos, o via sumir na esquina da Augusto de Mendonça. Aquele senhor em momento algum falou de Deus, não me pediu dinheiro, apenas o ouvido para ouvi-lo. Então, pensei:

- Muitas vezes nos preocupamos em dar uma esmola, um pedaço de pão, achando estar fazendo o suficiente para aquela alma, que, na verdade, só quer ser ouvida, só quer ser vista como pessoa e não como um animal que alimentamos e depois esquecemos no quintal de casa.

Não entendo nada sobre o mundo espiritual por não crer-lo, mas, de uma coisa entendo, nada acontece por acaso, e, não é por acaso que ensinamentos como este estão diariamente atravessando nossos caminhos é só ficar atento aos movimentos...

Texto: A Sabedoria do Nosso Universo.

Autor: Osvaldo Rocha Jr.

Data: 10/11/2024 às 20:20