Caminhada na Mente
Começo com um ponto, ponto de pensar, como uma partida em um caminho desconhecido, mas de algum modo sabido. É difícil ver o fim. Os pés caminham com sentimentos de dormência em meio à decadência. Escuto os tambores ditando o ritmo: ora lento, ora intenso, ora desordenado. Tum tum tum, boom, tum, tum, boom.
Pulso forte, mente alerta, cheia de ideias. Ruim é guardá-las só pra mim, pois não há como dialogar. Mundo só, desnudo de pessoas ao redor, como uma ilha deserta. Sou um náufrago vivendo de peças flutuantes que as ondas mandam. Dia sim, dia não, chega algo diferente. Mas como faz falta poder conversar, jogar conversa fora, apenas falar – pode ser em gíria, formal, erudito, clássico, nostálgico... Aqui tem de tudo.
Queria jogar letras no ar, dissipar as ondas de rádio frequência, ecoar o papo, ressoar ideias. Mas fazer o quê, se isso não se faz? Resta encontrar um espaço vago na mente, para guardar em gavetas os arquivos não falados. Deixo ali. Quem sabe uma hora esses papos saiam pela boca, em companhia de quem nos queira por perto para ouvi-los.
Fecho a porta dessa caminhada pela pista estreita, fecho as janelas, recolho os sapatos, fecho os olhos. Amanhã, reabro essa caminhada e dou novos passos.