A árvore 🌳

Já parou pra pensar, que uma árvore tem uma longa vida, e que ela passa por várias etapas ao longo de sua jornada?

A árvore, desde o início, tem uma jornada silenciosa e íntima, cheia de significados ocultos e transformações discretas. Nascida de uma semente pequena e frágil, encontra o caminho da luz em meio à sombra da terra, rompendo o solo devagar, enfrentando as incertezas e as forças que a cercam. Ela cresce, aos poucos, em busca do céu, mas com raízes firmes e profundas, onde guarda suas primeiras memórias de vida.

Na primavera, sente o pulsar da terra, um chamado suave que a desperta de seu torpor. Suas folhas surgem aos poucos, verdes e vibrantes, o clímax da sua vitalidade e promessa de novos começos. Flores tímidas se abrem, e há uma sensação de renascimento. Os ventos mornos acariciam sua copa, enquanto ela se curva ao peso das flores, acolhendo os primeiros pássaros e insetos que procuram nela abrigo e alimento. Neste momento, a árvore parece acreditar que esse esplendor verdejante poderá durar para sempre.

Então, o verão chega e traz consigo o calor inclemente e intenso. A árvore é forte, vigorosa, suas folhas são espessas, seu tronco se firma ainda mais, como se desafiasse o tempo e o destino. Ela sustenta galhos carregados de vida, nutre pequenos frutos, que a tornam um centro de vida e de alegria para os animais ao seu redor. Mas o sol é implacável, e, aos poucos, sua seiva começa a se tornar mais lenta, seu vigor enfraquece com os dias que parecem intermináveis. Ela permanece firme, no entanto, oferecendo sombra e proteção, enquanto o calor consome seu viço aos poucos.

Logo, chega o outono. O vento sopra com melancolia, e a árvore sente que algo está partindo. Suas folhas, antes tão verdes e cheias de vida, agora assumem tons dourados e ocres, como um reflexo de sua maturidade e passagem. A cada folha que se desprende, parece perder um pedaço de si mesma, como memórias que se esvaem, deixando-a mais nua, mais exposta. As folhas caídas se espalham pelo chão, transformando-se em uma última oferenda ao solo que um dia a sustentou. Ela se curva ao peso da idade e da saudade, ainda bela, mas tomada por uma sensação de adeus.

Quando o inverno finalmente chega, tudo se torna frio e silencioso. Sua casca endurece, suas raízes parecem encolher, e o vento gelado corta seu tronco como pequenas lembranças de tudo o que viveu. Despojada de suas folhas, de sua exuberância, ela se revela em sua forma mais crua, como se a própria natureza a houvesse despido de suas alegorias. No entanto, até mesmo neste desamparo, ela resiste, em um misto de vulnerabilidade e força, enquanto o frio a envolve como uma mortalha.

Com o passar dos invernos, seu corpo, já cansado, começa a se inclinar, seu tronco a rachar em cicatrizes que contam sua história. E um dia, já exausta, ela se entrega, cedendo à terra que a viu crescer. Seu tronco finalmente tomba, e ela retorna ao solo, suas raízes abraçam a terra em um último gesto de despedida.

E, assim, a árvore desaparece lentamente, devolvendo ao solo o que um dia recebeu. Suas folhas, galhos e raízes se desfazem em nutrientes que alimentam novas vidas. No lugar onde um dia se ergueu, talvez brote uma nova semente, que, silenciosa e lentamente, buscará também o céu, enquanto carrega em si o eco de sua predecessora.

Tal qual uma árvore, é a jornada de quem vive

É uma montanha russa de momentos e sensações

Às vezes, perguntando-se se está preso ou livre

De um ciclo derivado de infinitas repetições.

Apesar de tudo, todas as árvores são diferentes

Engana-se quem espera uma cópia perfeita

Não há genética que permita, pode até ser semelhante

Mas no fundo, cada uma é única e significante.