Meses e meses/Lágrimas no travesseiro
Meses e meses sob a influência das medicações, e as aberraçoes ainda assombram as minhas noites, ainda penetram meus sonhos e me deixam paralisado.
costumava ficar paralisado somente enquanto acordado, quando a ansiedade era forte demais e meu corpo inteiro entortava, minha respiração encurtava e meus pulmões queimavam em agonia
Meses e meses tentando te convencer que estou bem, quando na realidade eu sei bem que não, não estou
E se eu nunca ficar bem? E se eu não souber mais o que significa estar bem? Lítio, me veja como um amigo, um amigo que está com dor e sem saída. Me entenda, não estou triste
Só não consigo escapar dos “ins” que vagam na minha cabeça: “infeliz, insuficiente, incapaz, inevitavelmente sem saída.”Quetiapina, me entenda, não estou pedindo por sua pena ou simpatia, quero apenas um escape para tudo isso. Há um caminho para fora da mente? Existe uma escapatória pra tudo isso? De novo, não estou triste, estou apenas extremamente infeliz. Tenho uma doença, uma doença sem cura e que me corroe de dentro pra fora. Sinto que seria mais fácil se tivesse uma doença terminal qualquer. Dessa forma, as pessoas entenderiam quando eu não estivesse me sentindo bem pra conversar ou sair, não teria que passar por todo um sermão quando eu passasse meses e meses sem conversar com meus parentes ou amigos; eles simplesmente entenderiam que eu estou doente e preciso do meu tempo. Eles entenderiam que por mais que eu não tenha uma doença física, eu estou com dor. Tudo dói. Tudo machuca. Tudo parece excruciante. Eles também entenderiam melhor quando eu partisse. Meses e meses passariam, o sofrimento trocaria seu lugar para novos sentimentos e seus corações poderiam começar a se remendar. Mas não é possível. Nunca entenderam ou poderão entender o que é ter uma doença como a minha, uma doença que um exame não identifica, uma doença que um remédio não dá um jeitinho, uma doença que de pouquinho em pouquinho, mês a mês vai me matando e eu não posso fazer nada. Tentei de tudo, juro. Remédio, terapia, religião, curandeira… nada adiantou. O único jeito de fazê-los entender como é minha doença, seria se eu partisse agora. Li em algum lugar que quando você se mata, você deixa 8 possíveis pessoas que provavelmente irão desenvolver questões de saúde mental, e esse não é meu objetivo. Eu tenho uma doença maldita e não quero que ninguém mais a tenha. Eu tenho uma doença maldita e lidarei com ela mês a mês, até que a morte finalmente bata na minha porta e eu possa descansar. Até lá, continuarei com minha dor no meu peito e com essas lágrimas que escorrem no meu travesseiro.