Poemas não lidos

Eu não leio poemas

Não vejo belezas nas flores

Não entendo trocadilhos

Nem troco os móveis de lugar

Não pinto aquarelas

Não entendo de pianos

Não bebo vinhos

Não movo montanhas

Não queria viver em sociedade

Não defino limites

Não amo demais

Tão quanto de menos, talvez

Não vejo pores do sol

Nem nasceres de lua

Vivo sem bateria no celular

Tenho medo de antenas

Não dirijo carros dos outros

Não empresto meus poemas não lidos

Nem minha visão de mundo

Não alugo minha alma

Não me encanto por valores

Não queria gostar de café

Não queria ser criativo pra poemas sem sentido

Queria saber tocar contra baixo

Sempre quis ver o mundo do alto

Aprender a voar

Esquecer o gosto de remédios ruins

E voltar a sentir o mesmo gosto que senti quando te provei a primeira vez

Queremos muita coisa

Inventamos desejos novos como máquinas de escrita de jornais antigos

Desenvolvemos negações sobre momentos que não há de ser preciso

Amamos e odiamos o que compõe o mundo a nossa volta na mesma intensidade

Poeta de quinta
Enviado por Poeta de quinta em 06/11/2024
Reeditado em 17/11/2024
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