O Encontro.
O Encontro.
- Boa noite.
- Boa.
- Como esta você?
- Bem! Por que a pergunta?..
- Não. Nada! É que vendo você ai sentada, fez-me lembrar de Dinho. Parece que foi ontem.
- Ah! Sentei aqui hoje porque estava lembrando da época em que ele sentava neste mesmo banco e escrevia todas aquelas loucuras. Parece ontem, mas, faz um ano.
- De fato. Toda escrita que ele fazia, quando não era loucura, no mínimo fazia-me refletir. Louco isso não?..
- Talvez!.. No entanto, das loucuras de tantos, nasceram grandes feitos. Sinto falta dele. Embora de verdades descrentes à minhas verdades, na verdade, tinha "Q" de absoluta.
- Parece que o vejo. Sentado com seu celular aberto no bloco de notas, seu som dos anos 80' e 90' tocando músicas que somente ele poderia descrever o desfecho de cada uma delas e qual poder tinham sobre suas aspirações ao ponto de inspira-lo. Em algumas ocasiões, seu olhar verde refletia o cinza da tristeza, noutras, era tão intenso e vivo que dava medo fita-los.
- Concordo! Vou ainda mais além, você como irmã, o conhecia em sua estância fraternal. Eu por outro lado, o conhecia como amante, marido, e, amigo. Mesmo no término deste, ainda podia contar com ele nas inúmeras vezes que os meus viraram as costas, basta eu ligar, lá estava, pronto para estender a mão, e, como louco, escrevia o tema daquele momento.
- Sim! O meu irmão era de fato prestativo. Tinha suas iras, temores, magoas, como todo e qualquer ser humano passivo de humanidade.
- Esta escutando?.. Essa música que esta tocando agora não é a música que ele escolheu como tema do seu próprio velório?
- Sim!.. Isso mesmo. Você lembra...
- Como esqueceria! Ele mesmo lembrava cada vez que tocava. Como é mesmo o nome deste cantor? Lembro que foi por causa do título que ele a taxou como o tema de sua partida.
- Hummm! Acho que é John Denver, o título é Don't Close Your Eyes Tonight. Na nossa língua, Não Feche Seus Olhos Esta Noite.
- Até hoje não entendi o por quê...
- Ele tinha as loucuras dele. Vá saber...
- Bem. Vou andando. Foi bom te ver...
- Idem! Vou ficar aqui mais um pouco.
- Esta chorando.
- Não!..
- E esta lágrima?..
- Nada de mais. Apenas é reflexo das lembranças.
- Lembranças?..
- Sim! Lembranças de um tempo em que o via em seu mundo. Um tempo em que seu olhar trazia o verde de cada momento. Tempo que, nas suas loucuras, a sanidade de sê-lo o fazia único de uma forma tal, que provocava inveja em tantos senhores de nada. Tempo... Em que ele alegrava meu mundo mesmo quando não tinha mais por quê. Apesar de enxota-lo toda vez que sentia-me vazia, ele, chegava com aquela cara lisa e sem vergonha que tinha e fazia-me ver que não era bem assim. Que, mesmo que morresse ainda assim, estaria comigo fazendo-me sorrir como estou agora... Eis o por que da lágrima.
- Tchau!..
- Tchau!..
Ela partiu. Sem nada mais a dizer, ela observava a irmã sumir. Quanto a ela. Ainda sentada no mesmo lugar que ele escrevia, não percebia que ele de onde estava, rabiscava algumas letras sobre esse encontro que por ventura parecia ser tão impossível de acontecer. Então, ela sorriu, dizendo:
- Você não existe. Escreve tudo sobre tudo vivenciado, e agora, será que estar diluindo meus pensamentos?... Até!..
Obs:
Texto feito sobre uma conversa com minha ex. Do que diria se encontrasse com uma Irmã após um ano de minha morte. A parte de minha irma foi eu que criei. Não colocarei os nomes por preservação nem mesmo indicarei na conversa já que não tenho a devida permissão. Grato pela compreensão.
Texto: O Encontro.
Autor: Osvaldo Rocha Jr. (Dinho)
Data: 06/11/2024 às 18:21