Em Companhia.

Em Companhia.

Cheguei de uma longa jornada de trabalho, tomei um vinho para adoçar o amargo desse dia, tomei um banho afim de tirar as impurezas conquistadas à cada sinal, vesti uma roupa leve e fui sentar na velha cadeira deste velho, porém, tão novo quintal para escrever. Ao longe ouvia vozes das pessoas que passavam pela frente de minha casa, carros com som do momento, que, neste exato momento deixava-me irritado, pois, poluia meus ouvidos. Peguei minha velha caixa de som, liguei, e, INXS, tocava Never Tear Us Apart, envolvendo-me de lembranças antigas e novas como um cinturão circundando minha mente.

Súbito. Ecoa meu nome, mas, não era a questão de sê-lo, no entanto como fora entoado. Levantei num salto, abrindo o portão, a rua estava vazia, sem pessoas e suas falas, sem carros poluindo sonoramente o ar, balancei a cabeça como quem estava enlouquecendo, e, quando esta pronto para fechar-lo, um vulto desfilava do outro lado do passeio, seu andar deixava nítido a sua silhueta desenhando seu corpo moreno. Esfreguei os olhos, e quando os abri, um pouco a frente, o vento soprava as mechas daquele cabelo, trazendo a tona imagens à beira da enseada, quando e no momento em que olhando o horizonte me sorria, sua pele branca misturava-se com as espumas.

Será que estou alucinado, ou, delirando por vontade própria?...

Baixei a cabeça, e, quando resolvi levantar lá estava, aquele sorriso projetado naqueles lábios indecentes, sua boca em sintonia com a epiderme afro de suas origens, portal certo para um inferno de tentações. Fiz o sinal da cruz na vã tentativa de ser perdoado, de repente, não fui atendido como um mortal implorando pelo divino uma saída. Foi assim que consagrei-me pecador, envolvido pela sua pele meio moreno, meio branco, meio afro, uma pele que não direcionava um caminho exato, mas, que deixava-me curioso onde aquela estrada levaria-me.

Era um vislumbre das tantas vidas que vivi, um completo quadro que o próprio José Maria de Medeiros seria incapaz de produzir. Essa mistura de lembranças de ontem, com o hoje seguinte, fez-me repensar sobre tudo em todos os sentidos, e, sem sentido nenhum levou-me até vocês, vocês que, coloriu e descoloriu meu romance. Agora fecho o portão, portal deste insano com a sanidade das recordações que eu mesmo ouvindo as canções temas originais de cada fase, trouxe-as enquanto sentado no velho quintal serviram-me de companhia.

Texto: Em Companhia.

Autor: Osvaldo Rocha Jr.

Data: 05/11/2024 às 20:28

Osvaldo Rocha Jr
Enviado por Osvaldo Rocha Jr em 05/11/2024
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