Descaminho

As relações sociais, em todos os seus meandros, têm como característica intrínseca - algum tipo de confronto. Aliás, os embates são a base de todo crescimento individual e da evolução da sociedade. Representando as diferenças individuais e, mesmo, culturais, o debate de ideias fornece o contraditório para que possamos questionar nosso ponto de vista e verificar possíveis falácias em nossas posturas.

Ao longo da vida, recebemos uma formação exclusivamente técnica e pragmática, que nos possibilita arregimentar recursos para a sobrevivência. Essa metodologia de educação é extremamente desfocada da real necessidade do ser humano, dito ser social; o acessório toma o lugar do essencial e, pior ainda, o essencial é rotulado como parvo e "démodé". Nesse processo de instrumentalização do ser humano, o sujeito torna-se objeto, oportunizando o aparecimento de castas cujo intelecto desenvolvido é essencialmente maquiavélico.

A sociedade assume uma identidade coletiva caracterizada por um comportamento manipulador e cínico, onde o indivíduo age de forma a maximizar seus próprios interesses, sem considerar os sentimentos ou necessidades dos outros. Um coletivo maquiavélico com características definidas por um narcisismo psicopata — a "tríade obscura" — impede o desenvolvimento do ser humano em seu sentido completo, deixando de prestigiar a dualidade de seu caráter.

Nesse universo de inversões, cabe a cada um de nós nos posicionarmos como críticos de uma razão insólita, buscando realizações que tragam o ser humano novamente ao centro do universo.