Ainda Esta Noite...
Ainda Nesta Noite...
Ainda esta noite, por volta das 03:45, ela chegou. Chegou meio desconfiada, cautelosa, observava tudo ao redor, olhando-me com aquela certeza de estar incerta sobre se deveria continuar, mas, continuou. Sentou na borda do meu leito, passou a palma da sua mão sobre o lençol de algodão branco com detalhes em preto nas pontas, me sorriu delicadamente com uma certa vergonha estampada na face de quem seria a qualquer momento rejeitada, debruçou seu corpo 180° graus em minha direção, seus olhos se aprofundaram nos meus e sem nada a dizer, levou seus lábios de encontro aos meus. Seu hálito tinha o olor de hortelã, sua boca continha a maciez da seda e de, um movimento tão leve ao mesmo tempo em que sua agressividade incorporava desejos ocultos. Entregue aos devaneios daquele momento fugaz, nas trocas sensuais em cumplicidade com seus toques, fui aproximando gradativamente até que nossos corpos estivessem como um todo. Os minutos avançavam deliciosamente despudorado, peça a peça iam sendo extraída com a leveza e furor de quem estava em fogo ardente sendo consumido sem nenhuma chance de salva, e, quando percebemos, já estavamos completamente despidos sem limites terrenos, sem pudor religioso a não ser pela entrega a natureza da própria natureza humana, e, sem qualquer escrúpulo, desbravamos e violamos cada curva do nosso templo almejando alcançar o extremo das sensações divinas. A noite foi o palco daquele pecado iminente, testemunha das ações projetadas como se fossem apenas naquela noite e apenas nesta noite, seria entregue, e, não mais, haveria outra noite como esta. Não mais...
Ainda esta noite, os raios do sol invadiram sem pedir licença o meu quarto, despertando-me para a vida limitada dos seres terrenos, no corpo o suor ainda respinga mesmo que, em doses menores, do que minutos atrás, o lençol desgrenhado e molhado, exalava com orgulho o olor deixado pelos corpos febris das horas vivenciadas, onde Deus e o Diabo se negaram a presenciar por vergonha. O calor brando da manhã Outonal, veio como a mãe que afaga seu filho após o frio intenso das noites invernais, confortando, e, envolvendo-o no aconchego do colo. Na claridade do ambiente, pude ver nitidamente os detalhes outrora invisíveis do palco em questão, meus olhos percorreu cada canto deste, minhas mãos tateavam freneticamente o metro quadrado do colchão de Vitalgel Space na tentativa vã a sua procura para perceber que não havia indícios daquela noite, nenhum fragmento do momento, que, não passara de um sonho.
Ainda nesta manhã por volta das 09:30, eu cheguei, desconfiado, cauteloso, observando tudo ao meu redor, olhando com aquela certeza incerto sobre se deveria, e, devendo ou não, a chamei. Ouvi passos, o trinco destrancar, a porta se abriu, a imagem diante de mim era a mesma da noite, então, sem nada a dizer, debruçou seu corpo 80° graus em minha direção, seus olhos fitando profundamente os meus, levou seus lábios rosados de encontro aos meus, puxou-me para dentro fechando a porta atrás de mim, desse minuto em diante, os minutos silenciaram às horas seguintes...
Texto: Ainda Nesta Noite...
Autor: Osvaldo Rocha Jr.
Data: 29/10/2024 às 09:32