Crítica ao Círculo de Mises

A perspectiva do círculo de Mises, que se baseia na crença na razão humana e na eficácia do livre mercado, pode ser analisada de várias maneiras sob diferentes ângulos filosóficos e científicos. Nietzsche, ao ressaltar a natureza subjetiva e variável da linguagem, aponta que qualquer esforço para expressar a realidade de forma absoluta tende ao insucesso. Para Nietzsche, a ciência funciona como uma narrativa construída que nos ilude, permitindo-nos evitar a angústia e dominar outras histórias. Assim, a concepção de Mises sobre economia pode ser considerada uma metáfora útil, porém, sempre aberta a diferentes interpretações e projeções humanas.

Ao investigar a interação entre a matemática e a ciência, conseguimos perceber uma ligação com a objetividade e a exigência de abordagens sistemáticas. Contudo, diferente da matemática pura, ou, a priori, dado que é um juízo sintético a priori e o seu objeto de estudo são os próprios objetos matemáticos (objetos da pura intelecção, por consequência, em si abstratos), a ciência busca descrever padrões e relações por meio de métodos que sejam consistentes e práticos, em consonância com a proposta do falseacionismo de Popper. Thomas Kuhn, ao introduzir o conceito de paradigmas e a ideia de que conjecturas podem ser refutadas, ilustra a natureza dinâmica da ciência, onde teorias são continuamente avaliadas e alteradas. Dentro desse cenário, a ciência se configura como uma linguagem em constante desenvolvimento, aberta a diferentes interpretações, restrições e inovações, fundamental para a formação do conhecimento.

Nesse cenário, a ciência pode ser interpretada como uma forma de autopoiese intelectual, segundo a perspectiva de Humberto Maturana. As concepções teóricas se organizam por si mesmas e se replicam na busca por uma compreensão mais aprofundada da realidade. Paul Feyerabend, por meio de seu "anarquismo epistemológico", critica a imposição de um único modelo científico, advogando por uma abordagem mais flexível e diversificada. Esse pluralismo metodológico reconhece a variedade de métodos e admite que diferentes estratégias podem ser úteis conforme o contexto.

O perspectivismo nietzschiano sustenta que todas as interpretações e conhecimentos dependem da perspectiva do observador. Não existe uma visão objetiva ou absoluta da realidade, mas apenas interpretações que podem ser mais ou menos verossímeis a ela, isto é, que estão parcialmente e, por vezes, temporalmente em consonância com ela. Nietzsche valoriza a diversidade de perspectivas como uma forma de enriquecer a compreensão do mundo, em vez de buscar uma verdade única. Essa ideia está relacionada à "vontade de poder", onde diferentes interpretações são expressões dessa vontade. A abordagem autocrítica de Nietzsche sugere que reconhecer a natureza contingente e subjetiva da interpretação é essencial para o processo intelectual. Dito de outra forma, a valoração até de uma sentença depende do quão certa é a determinação semântica dela que está sobredeterminada ao contexto.

No que tange a crítica econômica ao círculo de Mises, destaco sua falha em reconhecer as contingências e variáveis externas que influenciam os mercados. A crença na autorregulação dos mercados desconsidera a complexidade dinâmica da economia, haja vista, o caos gerado na economia a partir de uma pequena mudança nas condições iniciais, caos este, determinístico ou não, além disso, ignora externalidades negativas (a contingência), como a poluição e a desigualdade social. Assim, a visão de Mises sobre a eficiência do mercado livre é uma "ilusão metodológica" que falha em captar a totalidade da realidade econômica.

Oaj Oluap
Enviado por Oaj Oluap em 26/10/2024
Reeditado em 26/10/2024
Código do texto: T8182852
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