A imagem sustentada
Às vezes sofremos para manter determinada imagem a nosso respeito. Mas não se trata da imagem que nós temos sobre nós mesmos, pelo contrário. Trata-se da imagem que queremos sustentar perante as demais pessoas. E, em nome disso, acabamos nos submetendo a difíceis situações que nos desgastam, desumanizam, invalidam nossos sentimentos, negligenciam nossas necessidades e colocam em risco a nossa dignidade. Tudo porque queremos ser vistos como a pessoa competente, a pessoa forte, a pessoa que dá conta, a pessoa que realiza, a pessoa que não precisa de ajuda, a pessoa que tem a solução para todos os problemas.
Temos os nossos motivos para procurar sustentar essa imagem. E eles podem ser variados. Entendê-los pode nos ajudar a compreender como se sustentam em nossas vidas, mas pouco resolve. Isso porque fazer diferente passa por entendermos, nós mesmos, que o que verdadeiramente importa na vida não é o que pensam ou deixam de pensar a nosso respeito, mas o que nós sabemos que somos, sentimos e sofremos. E isso se justifica pela noção de que sempre há um preço a se pagar nessa busca por manter determinadas imagens diante de várias pessoas. E talvez elas nos vejam como extremamente competentes e fortes, mas nós, em nosso íntimo, temos total compreensão do fato de que para sustentar essa aparência estamos nos sentindo esmagados pelas demandas do mundo. Só que piora. E piora porque o tempo passa. Ah, o tempo... Ele sempre passa! E aquelas pessoas se esquecerão da nossa existência e com isso aquela imagem que tão ferrenhamente tentávamos sustentar, simplesmente esfumaça.
Assim, é improdutivo desrespeitar os próprios limites porque algo que não é garantido.
De que importa o que pensam a nosso respeito? De que importa o que as pessoas acharão de nós? Essas pessoas nos acompanharão para sempre? Seremos lembrados por elas eternamente? E, indo mais além, enquanto nos desrespeitamos e deixamos de lado a nossa vida a fim de sustentar certas opiniões, quem é que está vivendo por nós? Quem é que está caminhando o nosso caminho? Quem é que está sentindo as nossas dores? E quem é que está curando as nossas feridas? Será que vale mesmo à pena? Não é mais vantajoso aproximarmo-nos de nós mesmos, de nossas potencialidades, de nossas limitações, reconhecendo-nos e vivendo a partir desse reconhecimento? O tempo passa... O tempo sempre passa... E a única coisa que permanecerá conosco até o nosso último segundo será nossa própria companhia... Qual é a imagem que queremos ter de nós mesmos?
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)