Morte e lágrimas

Essa estranha forma de sentir morte, o fim sempre presente em nossas vidas...

Quando saímos da infância há uma primeira morte de quem éramos, pois novos comportamentos são exigidos, novas sensações e transformações corporais, matamos em nós mesmos a ingenuidade lúdica para renascer outros, distintos, confusos, maiores, cheios de angústias...

Quando deixamos a adolescência para nos tornarmos adultos, alguns mais cedo que outros, impelidos pelas circunstâncias da vida, espinhas dão lugar aos pêlos corporais, romantismos se perdem na crueza da realidade, mais uma morte com ressurreição forçada...

Quando finalizamos uma etapa educacional, nos despedimos de colegas/amigos que nos acompanharam por uma jornada, dividindo aventuras e confidências e eles simplesmente partem, sem que voltemos a vê-los novamente, eis um luto, a partida, a perda de quem nos era caro...

Quando deixamos um emprego, seja por demissão voluntária ou não, fechamos mais um ciclo, não haverá como voltar para aquela porta fechada às nossas costas, só nos resta caminhar para frente, abrir outras portas, enxergar as oportunidades no horizonte...

São tantos lutos, tantas ausências, tantos finais, muitos sem despedidas, muitos com lágrimas e saudades, por quem se foi, por nós que ficamos sozinhos em nós mesmos...

Ainda assim, as maiores perdas vêm com as partidas de avós, pais e às vezes filhos, tristemente, invertendo a ordem cronológica das coisas, seja como for, continuamos entre o luto, a orfandade familiar, a busca por sentidos e presenças nas ausências...

Temos ainda o luto dos relacionamentos que se quebram com o desvelar das posições opostas de cada um, finais dramáticos, términos desoladores, pontos sem finais, friezas sem lágrimas, buscando o próximo amor na "fila de achados e perdidos", buscando o esquecimento em afazeres cotidianos, mais uma vez o luto...

E ainda assim nunca aprendemos a viver e aceitar que estamos cercados de mortes e finais desde a nossa primeira respiração, ainda teimamos em procurar pela eternidade em um mundo de efemeridades e lutos não respeitados, não experienciados, não curados...

Admito que chorei em várias dessas situações, umas mais, outras menos, mas na última talvez já estivesse tão profundamente na incredulidade da reciprocidade que não chorei, senti raiva, é verdade, mais por minha estupidez de me apegar ao irrisório, mas não chorei, apenas fui deixando ir, não valia a pena nenhuma lágrima que eu pudesse expressar através de meus olhos, então só deixei ir para não mais voltar....

Há lutos que são menores que outros porque a morte dos sentimentos, nesses casos, é uma libertação e um livramento do que somente nos causava danos...

Seja como for, cada um lida com seus lutos de forma diferente, conforme o momento, os pensamentos, os sentimentos que carrega em si. Não há formatos únicos, não há homogeidade, padrão, melhor ou pior jeito, apenas passamos pelo luto e ele por nós e seguimos porque a morte, em quaisquer simbologia, metáfora ou realidade física é a única certeza que sempre estará em nossas vidas, nos acompanhando como a escudeira mais fiel...