A totalidade que somos

Você é uma totalidade em si mesmo. Uma totalidade que encerra e dá contorno aos seus funcionamentos e mecanismos psicológicos e biológicos. Em você pode-se encontrar sentimentos, desejos e pensamentos. Bem como a manifestação de atitudes e comportamentos. Suas partes o compõem e ajudam a defini-lo, o que não quer dizer que o determinam. Isso porque as suas partes, ao longo do tempo, podem se modificar. E, ao menos uma delas se modificando, o todo que é você se transforma, pois é assim que acontece. Um sentimento novo e algo muda na sua forma de ver o mundo. Um pensamento diferente e talvez toda a sua concepção sobre o que é a vida pode se transformar. Mudanças que também mudarão a forma como o veem e se relacionam contigo. Lembre-se disso. Mexer na parte reverbera em todo o todo.

Embora sendo uma totalidade, você não está isolado. Isso porque, sendo uma totalidade, faz parte de tantas outras totalidades. E não precisamos ir muito longe para chegarmos a esse ponto. Pense na sua família, nas pessoas com as quais você divide o mesmo teto. Essa totalidade família é composta pelas partes que cada um de seus membros representa. Partes interligadas e conectadas. E uma mudança em uma das partes ressoa em todo o restante da totalidade. É quando, por exemplo, a sua irmã chega em casa dizendo que começou a namorar. Toda a configuração se altera. Embora a mudança tenha sido apenas na sua irmã, mas ela está conectada ao todo familiar, todo este que se rearranjará. Pois, lembremo-nos, uma pequena alteração em uma minúscula parte, causa ressonância em toda a totalidade.

E a família, por sua vez, também é parte de outra totalidade. A da rua. A do bairro. A da comunidade. A da nação. A do planeta. E nós mesmos, compondo a totalidade familiar, ainda somos partes de tantas outras totalidades: a do trabalho, a da escola, a da igreja, a da ONG, a do cursinho de inglês... De maneira que estamos sempre em relação, compondo-nos e sendo compostos pelos atravessamentos implicados nessas interações que estabelecemos com o mundo. E todas essas totalidades estão inseridas em totalidades maiores. Que estão inseridas em totalidades ainda maiores. Inseridas no Universo. E talvez aqui as totalidades se encerrem, ao menos na compreensão que por agora tenho.

Tudo isso para dizer que nossas ações reverberam sobre o mundo e pensar nisso nos ajuda a fazer o exercício da nossa liberdade com responsabilidade: compondo o mundo, o afetaremos, como por ele somos afetados. Que tipo de afetamento queremos causar?

Mas a questão não é exatamente essa. Isso porque sinto a necessidade de mais uma vez trazer luz ao assunto ambiental. O que se justifica por não nos darmos de que também somos partes da totalidade “Natureza”. Nós a compomos. E, como não poderia deixar de ser, somos também por ela compostos. Somos, sim, naturais, embora andemos distanciados dessa faceta a nós inerente. E somos dependentes da nossa relação com a Natureza. Não produzimos nosso próprio ar, nem temos condições de fazer brotar a nossa comida se na Natureza não encontrarmos os recursos dos quais necessitamos. Mas também não prestamos atenção nisso. E estamos tão desatentos que não ficamos alarmados pelo fato de que agredi-la, destruí-la e ofendê-la é o mesmo que agredir, destruir e ofender a nós mesmos. Isso porque somos partes que compõem a Natureza tanto quanto aquela árvore que é queimada ou aquele rio que é aniquilado. E isso chegará até nós. Claro que chegará. Pois, lembremo-nos, a menor implicação em uma das partes ressoa por todo o todo.

Pensar assim pode nos ajudar a ter mais consciência sobre o que estamos fazendo da nossa própria existência – e da existência daqueles que por aqui chegarão. Precisamos assumir que não estamos isolados, muito menos acima, da Natureza. Antes, a compomos. E ela nos responderá a partir de nossas ações, a partir de nossos atravessamentos. O todo responde ao menor movimento das partes. E essa resposta pode ser positiva, ou pode ser negativa. Tudo depende das nossas ações.

(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)