Aprender a sentir

Não nascemos aprendendo a sentir. Não nascemos aprendendo a lidar com a dor.

É o adultecer, o entrar em contato com a realidade dura da vida que vai nos ensinando a sentir.

Podemos ir por um caminho de sentir, e ressentir e magoar... e deixar a água parada ou podemos aprender a sentir, atravessar e ressignificar. O fato é que não temos como impedir de sentir, mas podemos construir estratégias e hábitos para lidar com o sentimento, como por exemplo ganhar consciência, manejar a energia e aplicar ferramentas para sair deste estado.

A gente só aprende a sentir, SENTINDO.

Enquanto estamos lutando para não sentir, ou se anestesiando, ou fugindo, ou evitando, ignorando, ou em qualquer outro estado de defesa, não conseguimos atravessar. Para poder sentir é importante estar consciente da energia presente. A energia que manifesta física, emocional, mental e espiritual.

O caminho para isso é de ganho de consciência e depois de autogestão. Primeiro precisamos aprender a reconhecer as emoções em nós: Como somos quando sentimos raiva, tristeza, medo e alegria? Como isso impacta em nossos comportamentos? Como isso interfere nos nossos resultados?

O caminho do sentir é um caminho muito solitário porque para isso é preciso criar lastro, criar espaço interno para acolher qualquer tipo de emoção. Sem julgá-la.

Aprender a sentir é aprender a criar este espaço na vida, é aprender a identificar, reconhecer e nomear o que sente. É organizar o que sente colocando cada coisa em seu lugar.

Aprender a sentir é aprender a aceitar o que é.

O problema de sentir é que ele pode se tornar uma prisão se você não perceber a dosagem certa, ou seja: "Até que ponto você sentiu o suficiente para agir, para transformar?" E esta pergunta é difícil de responder porque você pode ficar preso muito tempo neste sentir.

O significado de sentir de acordo com o dicionário:

- perceber por meio dos sentidos

- Experimentar

- Ter sentimento ou afeto

- Ser afetado por

- Ser sensível a; ressentir-se de

A gente não escolhe caminhos de anestesia à toa. Porque é mais fácil mergulhar na comida, nos prazeres, no estudo, no trabalho... do que de fato parar para experimentar algo, ou mesmo do que aceitar que algo te afeta e que você precisa lidar com isso.

É mais fácil ignorar, é mais fácil fingir que:

- o ambiente está normal,

- o relacionamento está bom,

- o emprego ainda é melhor do que nada.

Quando resolvemos mergulhar no sentir, podemos nos afogar, e se a gente não nadar, morre mesmo afogado na praia. É tanta água e ela vem com tanta profundidade.

Para poder SENTIR é necessário uma dose extra de coragem. E para ter coragem, é preciso aprender a acessar o fato pelo coração, sair do cabeção, da racionalização, da análise.

Fomos ensinados desde pequenos a importância do pensar, analisar e desenvolver o raciocínio. Porém, quando vamos para este caminho, esquecemos que o sentir é acionar os cinco sentidos.

De fato, se estamos na mente, não conseguimos sentir. Não dá pra ter a sensação de uma chuva caindo na pele num dia de verão se ficarmos preocupados se nossa roupa vai molhar e estragar ou se, ficarmos pensando na opinião dos outros quando nos vermos molhados...

O Sentir é um processo.

E como todo seu aprendizado tem uma evolução por etapas.

O resultado deste aprendizado é trazer mais sentido pra vida, mais significado, mais cor.

Entender que captamos a informação pelos 5 sentidos, porém que estes dados são influenciados pelo significado que damos a esta experiência.

A história que conto para o que estou sentindo, assim como o julgamento se aquilo é bom ou ruim.... vai gerar mais pensamentos que podem me gerar diferentes sentimentos.

Estar atento ao que pensamos e sentimos depois de um fato não é hábito fácil de ser criado, precisa de disciplina e consciência. Contudo, uma vez que tomamos consciência deste processo subjetivo e interno dentro da gente... abrimos espaço para escolher melhor a forma como vamos reagir aos fatos.

É como quando crianças, ao nos machucarmos, escutarmos nossos pais falando “não foi nada”, “já passou”, tentando tirar o foco da criança da dor, do desconforto. Até compreendo que nesta fase a criança ainda não tem sua psique desenvolvida para lidar com a dor, mas eu vejo aí uma oportunidade para ensinar a criança a sentir a dor, passar por ela, aprender a suportar. Porque mais tarde, estas dores não serão físicas, mas emocionais. E dói muitoooo mais.

O sentir pode ser tão cruel e nos paralisar a vida inteira. Foi e é assim com tantas pessoas queridas de meu círculo social.

A experiência emocional foi tão marcante que selou um arcabouço difícil de superar.

Por isso entendo que para iniciar este processo é preciso que a intenção e desejo venham do próprio indivíduo. Porque ele vai precisar se certificar desta intenção para se manter firme e forte nos momentos difíceis.

A escuridão esta ai assim como a luz. Por medo da escuridão, nos escondemos, evitamos olhar aquilo que mais nos envergonha.

Sentir raiva pelo próprio filho, sentir ódio pela situação atual de vida, sentir desesperança e paralisia.

Sentir vergonha dos filhos pelos erros cometidos.

Existem alguns sentimentos que são tão fortes que nos causam a impressão que é melhor abrir um saco de pipoca e ligar o netflix.

A pergunta que fica é:

· Para que investigar nossas feridas

· Para que mergulhar na psique

· Para que entender nossos maiores medos

· Para que reconhecer nossa criança ferida

Essas perguntas são facilmente respondidas quando observamos que ao atravessar este caminho sombrio e escuro, nos tornamos mais inteiros. E este sentimento de inteireza está conectado com o nosso processo de individuação. Se viemos ao mundo para nos tornarmos quem somos, é importante encarar nossos maiores medos porque é ali que mora nossa maior riqueza.

S.

Escrito em 19 de maio de 2022.

SuzanaSS
Enviado por SuzanaSS em 20/10/2024
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