Chuva, Velhice e Morte. Reflexão sobre o Tempo.
Gosto da chuva. Ela não é apenas um fenômeno natural, mas um convite silencioso à introspecção.
Cada gota que cai traz consigo um momento de pausa, de reflexão. A chuva me inspira — ela me faz pensar sobre a vida, sobre as emoções que, assim como as gotas, caem suavemente e, às vezes, em tempestades.
Chuva para dormir, seu ritmo constante é como uma canção de ninar da natureza, que embala os pensamentos e os sonhos mais profundos.
Chuva para sonhar, pois há algo de mágico no barulho suave das gotas batendo na janela, algo que desperta os anseios e nos faz imaginar mundos além deste.
Chuva para amar, pois no frio e no aconchego que ela traz, os corações parecem se aproximar mais, buscando calor e conforto nos braços um do outro.
Chuva para meditar, já que ela limpa não só o ar, mas a alma. Como uma purificação, a chuva lava as tensões e nos permite um encontro mais profundo com nós mesmos.
Ela está sempre presente em todas as fases da vida, é testemunha do passar do tempo. Assim como as estações mudam, nós também mudamos e continuaremos a mudar. E assim, um dia chegaremos a velhice, que é como o crepúsculo desse ciclo. E a chuva, lá também continuará presente. Porém, com nuances um pouco diferente. O que antes era alegre e vibrante na infância, provavelmente, se tornará mais contemplativa na velhice. Pois seus pingos nos lembrarão histórias de dias passados, de sorrisos, lágrimas e momentos que um dia vivemos.
Na velhice, a chuva não será apenas inspiração, será também memória. Cada gota nos trará lembranças de outros tempos, de chuvas que já banharam o mundo, quando os passos eram mais ágeis e o coração pulsava com outra frequência. Na velhice, a chuva será mais calma, mais silenciosa, como se acompanhasse o ritmo do corpo que envelheceu.
A velhice é uma espécie de preparação, assim como o céu que se cobre de nuvens antes de uma tempestade suave. Há um recolhimento natural, uma aceitação de que, assim como a chuva tem seu fim, a vida também segue seu curso. Mas a chuva não é triste, ela apenas nos lembra da impermanência de todas as coisas, do ciclo inevitável que se fecha.
E a morte, assim como a chuva que cessa, é um momento de transição. Não um fim abrupto, mas uma pausa serena, como o mundo que se silencia após uma chuva longa. Ela limpa o terreno, deixando espaço para o que virá depois — seja a calma após a tempestade ou o renascimento de algo novo.
Talvez a morte, como a chuva, não seja algo a temer, mas a acolher. É a conclusão natural de uma vida vivida, assim como a chuva é parte do ciclo da natureza. Quando o último pingo cair, ele apenas retornará à terra, alimentando as raízes para que algo novo possa crescer.