Sobre Sentir
Talvez tenha sido por isso que eu sempre escolhi a razão ao invés da emoção.
A emoção me tira do centro. Me deixa improdutiva. Me tira o controle. Lidar com ela é algo tão imprevisível e surreal.
Tinha tempo que não sentia meu coração pulsar tão forte, tempo que não estava tão inspirada a viver. A usar uma roupa bonita. A me arrumar.
Os últimos longos anos foram escolhidos para viver sem ela. Minha escolha.
A razão é mais fácil. Mais amigável
A emoção me deixa vulnerável.
A emoção me tira do sério.
A emoção me coloca em estados que não quero estar
E como então lidar com a emoção em um ambiente da razão? Como posso trazer o sentir para o trabalho se este sentir te traz descontrole. Não é eficiente. Nem eficaz?
As vezes que fui tomada pela emoção perdi e ganhei. Mas teria feito tudo de novo em prol de uma estabilidade? Vejo o quanto foi necessário me perder...
Hoje a razão me trouxe estabilidade, me trouxe segurança; Me trouxe uma capacidade maior de argumentação.
Hoje a falta de emoção me trouxe um vazio, Uma carência. Uma necessidade enorme de viver.
Talvez eu precise aprender a sentir. E encontrar alguém no caminho que me deixe a vontade para sentir.
Porque sentir é ser incoerente.
Sentir é insano.
Sentir é para os desocupados.
Quem se preocupa em estudar, construir uma carreira, e se estabilizar na vida não tem tempo para sentimentos. Porque os sentimentos tomam um espaço demasiadamente grande nas nossas vidas, na nossa mente, no nosso dia.
E quando menos nos damos conta, passamos o dia inteiro pensando no amor, sentindo aquela dor, ressentindo a situação. Ou vivendo a euforia. Olhando a vida colorida...
O fato é que o sentir é combustível para a vida. Viver uma vida sem sentir, é viver na estabilidade e no marasmo.
Sem emoção.
Sem batidas fortes no coração.
Qual a graça? Qual a graça de ter uma casa se não tiver pessoas que me interessem para convidar a estar la? Qual a graça das conquistas se não tiver ninguém para compartilhar.
O sentir está muito relacionado ao medo se conectar. Porque as conexões provocam sentimentos.
Minha fuga maior é sim teorizar e ir para o estudo. É muito mais fácil. Mais seguro.
Mas em compensação... de que adianta saber tantas coisas e não saber lidar com o afeto e a forma como somos afetados pelas pessoas?
Talvez este seja o meu principal desafio. Ligar todo o conhecimento teórico que tenho com o poder das conexões.
As conexões te trazem alegria, mas também te trazem dor. Te traz medo. Te traz raiva.
Traz um monte de coisa ruim e boa.
E faz o que com isso? Faz o que com esta emoção que predomina? Que invade? Que desfoca e desconcentra.
Dá pra voltar? Dá pra desistir? Não dá.. Agora tem que ir até o final.
Se eu pudesse escolher entre minha vida sem ou com o sentir, qual seria a reposta?
Lógico que com os sentimentos.
Mesmo que acabe agora, e tendo que lidar com sua finitude. No final, vale cada segundo
O sentir provoca grandes insights.
As vezes parece perda de tempo. Mas se permitir sentir, é temperar o tempo.
Olhar o tempo como perdido é algo muito mecânico. Insensível e racional. Porque não existe perda de tempo.
Existe mergulho em experiências que vão trazendo significado para a vida.
Existe investimento em relações que fizeram a diferença em nossas vidas.
Existe a construção de um amor pela vida: por mim e pelos outros.
A construção de algo que vai além de qualquer status, profissão ou coisa qualquer.
Existe o me enxergar no outro e ajustar a vida para fazer aquilo que faça sentido pra mim.
Existe a busca eterna por encontrar o significado e proposito das coisas.
Existe as escolhas que faço no uso do meu tempo e de minha disponibilidade.
Posso escolher me fechar no meu mundo e viver uma vida de questionamentos ou posso viver me abrir, me conectar, chorar, sorrir, me encantar.
O foco, a concentração, a eficiência estão ligados a racionalidade. A um treino mental.
Mas e o sorriso solto, a leveza, a música, a dança? Aqui entra o sentir, a emoção. Não é algo que se treina. Mas sim algo que se vive.
Seria uma utopia ser uma pessoa leve e alegre e ao mesmo tempo racional?
Como estas questões me corroem.
Porque quero muito achar um meio termo. Quero muito um equilíbrio entre elas.
Mas ainda não sei como...
Talvez a resposta esteja em apenas se permitir sentir.
S.
em: 27/11/2019