Diante do Espelho: Reflexões e Dúvidas
Diante do espelho, a figura contempla não só sua imagem física, mas a essência de sua existência. Como em um devaneio Kierkegaardiano, percebe a finitude de cada momento, o sopro fugaz de uma vida que se esvai sem esperar aplausos. "Os anos são cruéis", ela reflete, lembrando-se de Nietzche e sua ideia do eterno retorno — uma repetição de experiências que a fez confrontar seus próprios valores. Cada marca em seu rosto é um fragmento de tempo perdido e, ao mesmo tempo, um traço de eternidade, um testemunho de tudo o que foi vivido.
Grata, sim, mas como Pascal também angustiada, ela reconhece a pequenez do ser humano diante do infinito. Não teme a morte, pois para ela a morte é um paradoxo — um fim que dá sentido à vida e uma libertação que revela nossa fragilidade diante do destino implacável. A gratidão parece se misturar com a dúvida, como se a essência de sua existência estivesse impregnada por uma falta de respostas. É como se Camus estivesse ali, sussurrando que a verdadeira questão não é viver ou morrer, mas encontrar razão no absurdo que nos cerca.
A dúvida toma forma nas questões que começam a fervilhar em seu espírito. Ecoa a pergunta: teria Deus falhado em sua promessa? Deus, que para alguns é um amparo e para outros uma ausência dolorosa, permitiu que as bênçãos se derramassem apenas sobre os poucos escolhidos? Onde estava a justiça divina quando o sofrimento tomava conta do mundo? É como se ela estivesse diante da mesma indignação que alimentou as reflexões de Fiódor Dostoiévski, ao questionar um Deus que parece falhar diante da dor humana.
E então, surge a questão fundamental: "Valeu mesmo a pena?" Será que os sacrifícios, as lutas, e as lágrimas têm algum valor intrínseco, ou somos todos, como Schopenhauer sugeriu, peões de uma vontade cega e impiedosa, presos num jogo do qual não podemos escapar? O sofrimento, que alguns dizem moldar a alma, talvez não passe de um ferreiro impiedoso, dobrando-nos à força, transformando nossa humanidade em peças moldadas por um destino caprichoso.
Quanto ao tempo, essa entidade ilusória, ela se lembra de Kant, que definiu o tempo não como uma coisa em si, mas como uma condição subjetiva de nossa percepção. O envelhecimento, então, não seria necessariamente sinônimo de maturidade; talvez fosse apenas a repetição de erros velhos com novos rostos, uma dança circular que apenas nos ilude com a promessa de sabedoria.
E o amor? Ah, o amor, essa invenção que Platão descreveu como a busca por nossa metade perdida. Amar seria realmente um ato genuíno de transcendência, ou apenas uma procura egoísta por conforto e conveniência? Seria possível amar alguém de verdade, ou estamos todos presos em contratos emocionais, acordos tácitos que nos asseguram uma sobrevivência menos solitária?
Diante dessas questões, o espelho devolve um olhar profundo e enigmático. Talvez a maior das verdades seja aceitar que, como diria Heráclito, "Tudo flui", e o questionamento é parte essencial de nossa natureza. Ao contemplar sua própria imagem, ela reconhece que somos uma síntese de certezas e incertezas, de fé e dúvida, de amor sincero e de conveniências passageiras. A existência é esse paradoxo constante, uma luta interminável entre a gratidão pela vida e as perguntas que nunca se calam.
________________________________________________________
Junior Omni - 2024