Fazer o que quero
E é por fazer apenas o que eu quero
Que perco a necessidade de ser recompensada.
Pois o ato de fazer já me recompensa.
Pois fiz o que eu queria e por isso já não espero nada.
Idealizo essa forma de pensar e agir,
Pois quando penso nela sou eu responsável por mim.
E de fato sou verdadeira, comigo mesma sendo também leal ao que considero ser o eu em mim, com todas as qualidades e defeitos que me formam eu.
Mas veja, quando digo que só faço o que eu quero, temo que me intérprete mal.
O querer ao meu ver :
Não é um desejo irresponsável e imoral.
É na verdade a soma dos prós e contras
Se ao fim destas você o quiser,
Então o quer de verdade, não apenas o deseja, o quer. Pois o quer como é, pois o querer também aceita os defeitos, o querer é tudo o que viabiliza, pois nenhuma situação é apenas o que você idealiza, as situações tem sempre dois lados e ao querer algo, você o quer de fato como é, e por ser exatamente assim, pois se uma de suas partes lhe faltasse já não seria o que é, e de fato não seria o que você quer, seria outra coisa que não a coisa que se é.
Por isso creio que o querer verdadeiro é acima das vicissitudes, acima dos contras, estimula o pensar do "mesmo assim", mesmo que tenha tantos defeitos, tantas dificuldades, tantos problemas, "mesmo assim eu o quero."
Isso então materializa de fato o significado de querer como eu o entendo.
E sendo assim quando quero algo e eu o realizo não existe uma espera de reconhecimento pois existe uma confiança plena e satisfatória de alcançar o que queria, e isso já me é gratificação suficiente, além de tirar do outro a responsabilidade de me corresponder como desejo, mesmo que o faça será um bônus, e me surpreenderá, se não fizer já teria de forma plena a satisfação de ter conseguido e em nada me decepcionará a sua reação, pois a princípio já não contava com ela.
Diferente pois de quando se faz algo esperando a notoriedade do outro, ou uma reação específica, pois uma vez que não a tenha, a decepção será inevitável, e por vezes, pessoas por serem pessoas, agem conforme seu pensamento, refletindo dentro de sua própria lógica, acreditando que ao agir em A a outra pessoa irá agir em B, como um roteiro pré-estabelecido, que ninguém além dele mesmo tem conhecimento, e assim sendo, aumenta exponencialmente a chance de decepcionar-se pois sua decepção não vem da atitude do outro em si, mas do fato de essa não ser a atitude a que se esperava, sendo que mesmo que o outro, desejasse lhe atender a expectativa, não saberia como, pois este não conhecendo o roteiro imaginário do um, como poderia agir exatamente dentro do esperado?
Eu vejo tão claramente como egoísmo, o "querer" de que o outro abdique de si mesmo para tornar-se aquilo que o um tem por idealizado, é como dizer que quer tomar água e não quer molhar a língua, o querer tomar água inclui querer que a língua se molhe, é de um pensamento precisamente ingênuo crer que o outro, que tem outras formas de pensar, de entender, de viver, chegue exatamente a atitude que espera sem que este tenha nenhum conhecimento de como se espera que ele aja nessa situação, pior que isso é enfurecer-se com o fato do outro ser como é e não como se deseja que ele seja, pois o outro, antes de conhecer você, já era outro, e coexistia no mundo com outras pessoas.
o que lhe faz pensar que sua forma de pensar é única, e absoluta é justamente o que o impede de conhecer de fato como os outros são. Pois se permitisse que fossem, além do seu controle, controle esse que você já não tem, sobre quem você pensa que eles deveriam ser seriam eles, eles mesmos, e podendo ser eles mesmos quando junto de você, sentiriam nenhuma necessidade de trair a ti, pois cada vez que estando com você precisam eles abdicar de si mesmos para que não tenham embates ou discussões, apenas por que é infinitamente mais simples, extremamente mais fácil fingir fazer aquilo que você quer, ao menos na sua frente, para que se poupem de se indispor, ao fazê-lo estarão eles a trair a si mesmos.