Regresso

Voltar a escrever após oito anos é como abrir um velho diário empoeirado, encontrar entre as páginas uma versão de si mesmo, tão familiar e ao mesmo tempo distante. Aos 15 anos, as palavras tinham outra textura; eram como uma explosão de emoções, uma tempestade de descobertas, confusas e intensas. Cada frase parecia um grito de identidade, uma busca por pertencimento.

Agora, com os anos que passaram, as mãos que seguram a caneta são diferentes. Elas carregam o peso das experiências, das decepções, das alegrias mais serenas. O olhar amadurecido relê aquelas palavras antigas com uma mistura de ternura e estranheza, reconhecendo ali a faísca de um eu que não se perdeu completamente, mas que cresceu e se moldou.

Escrever de novo é como reencontrar um amigo antigo. O nervosismo do início, aquela dúvida sobre se ainda será possível compartilhar a mesma intimidade, logo dá lugar a um conforto quase esquecido. As palavras, embora agora mais ponderadas, voltam a fluir, levando junto todo o aprendizado e as cicatrizes acumuladas.

E nesse retorno, percebe-se que a essência está intacta. O tempo não apagou a necessidade de se expressar, apenas ensinou que as palavras também têm seu próprio ritmo, que o silêncio e os intervalos fazem parte da melodia. Voltar a escrever, depois de tantos anos, é como ouvir a própria voz ecoar de uma forma nova, mas ainda assim, estranhamente familiar.