Sonhos e planos

Sonhamos, é normal. Fazemos planos, isso é até saudável. Inevitavelmente visualizamos o futuro que gostaríamos de viver. Todos fazemos isso. Quando conhecemos alguém especial, por exemplo, logo imaginamos como será a nossa vida futura compartilhada em conjunto. Enfim unidos, agora ficamos ansiosos pela chegada de nosso primeiro filho. Quando ele está crescendo, ficamos na expectativa de como será o seu primeiro dia na escolinha. Quando percebemos que sua voz mudou, fantasiamos sobre quem será que ele conhecerá para, como nós, construir uma vida em conjunto. E, quando ele enfim se casa, agora ficamos animados pela chegada de nossos netinhos. E os sonhos continuam. Fluem. Uma vida sem sonhos seria uma vida sem brilho, sem razão, sem motivação. Então os sonhos são necessários, são normais, fazem parte da existência.

O problema, no entanto, é quando ficamos tão presos nos sonhos, nos planos, nas idealizações que construímos acerca do futuro, ao ponto de nos esquecermos de viver o que está acontecendo agora, de nos atualizarmos conforme a vida acontece e de percebermos como as coisas estão se desdobrando. Os sonhos e planos devem servir como um norte, uma orientação, não como um definitivo destino. Isso porque talvez nosso filho, voltando ao exemplo anterior, não seja como desenhamos em nossa mente antes mesmo dele ser uma realidade. E, então, quando nos deparamos com tal “frustração”, não conseguimos aceitar o que é, insistimos pelo que “deveria ser” e deixamos de apreciar a vida em sua plenitude, atualizando-nos e contentando-nos com o fato de termos um filho, bem verdade que não o que imaginamos, mas ainda assim o temos, podemos amá-lo e por ele podemos ser amados também.

“O maior obstáculo à vida é a expectativa, que nos faz apressar o amanhã e perder o hoje” (Sêneca)

Usei o exemplo de um filho, mas quantos mais exemplos poderiam ser ilustrados aqui? E todos nos fariam perceber o quanto parece que as coisas perdem sentido quando nos damos conta de que elas não necessariamente acontecerão como rabiscamos no papel. Você já deve ter feito rascunhos na época da escola para as aulas de redação. E, ao passar a limpo, por vezes se dava conta de que uma frase seria melhor usada no lugar da outra e que talvez as palavras precisassem variar um pouco mais. A essência do texto permaneceu, a mensagem a ser transmitida persistiu, a forma como isso se deu, no entanto, acabou alterada. Na vida talvez aconteça assim. Temos nossos sonhos e temos nossos projetos, temos, ainda, os caminhos que imaginamos como necessários para alcançá-los. Contudo, a vida se desdobra e nos mostra que ainda poderemos ter a família que queremos, o emprego que desejamos, as viagens que cobiçamos, mas que essas coisas são acontecerão a partir do nosso script, mas de um diferente, que nos levará até esses mesmo lugares por caminhos distintos, caminhos que também possuem beleza e que também podem nos enriquecer, desde que sejamos capazes de afrouxar as expectativas e permitir que a vida nos surpreenda!

(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)