O Hospital Português.
O Hospital Português.
Aquele local reunia todos os tipos de pessoas, de várias idades, de natureza híbrida, entre a educação e a falta dela. Lá, de certo, trazia ao mundo novas vidas, assim como, assistia a vida esvair-se do olhar enfermo daquele que buscava viver. Naquele lugar, apesar das poses de muitos, não diferenciava pobres de rico, afro e brancos, morenos dos amarelos, apenas marcava com suas habilidades os setores a serem diagnosticados.
Sempre nesse lugar, choros eram ouvidos, sorrisos estremecidos, cochichos ao pé do ouvido, e uma tristeza estampada na face. Eu estava lá, sentado, escrevendo no bloco de notas, pensamentos inúteis que se tornam texto. A espera silenciosa matava-me devagar, eu lia Drácula de Bram Stoker, jogava Block Pluzzle, observava as idas e vindas dos médicos e enfermeiras padronizados, pacientes e seus acompanhantes chatedos, até mesmo, um Cardeal pousando no parapeito da janela do quarto vizinho. Ao meu lado, uma morena com seu vestido vermelho de bolinhas brancas, uma senhora mais ao norte concentrada em seu TikTok, o rapaz do serviço geral fazendo seu trabalho de forma gradativa, entretanto, sua face desenhava uma preocupação nítida, mas, despercebida por todos que passavam por ali. Chegou o médico, seu nome era Guilherme, pediu-me que sentasse na maca, pegou meu braço examinando-o fazendo a seguinte pergunta:
- O que aconteceu meu jovem.
Ele aparentava ter uns setenta anos, por este motivo chamou-me de jovem apesar dos meus cinquenta nas costas.
- Reação ao assalto com arma branca.
- Que tipo de arma?..
- Caco de vidro, mais precisamente, parte da garganta da mesma.
- Não pode revidar. Você sabe?
Passou uma limpeza com gaze e soro, deu quatro pontos, e, enfaixou, repetindo o mesmo aviso. Liberou-me e passou um antibiótico para o caso de inflamar ou sentir dor. Dor! Kkkkk dentre as tantas dores existente neste local, a minha era tão insignificante quanto um mero arranhão. A dor! Esta seria tão insuportável quanto a dor de ver seu amor partindo por capricho, ou, aventura de um momento, doeria mais que sentir-me usado pelos tantos parentes que te sorri com o veneno escorrendo da boca, traria angústia ai ponto de ser comparado com a morte de tantas almas buscando em sua vã vida sobreviver a dura realidade? Acho que não!
Agradeci, e, antes se sair ele perguntou:
- O Sr. é religioso? Pelo que vejo não!
- Realmente não sou. Por que?
- O seu cordão. Uma cruz de cabeça para baixo. É Anti-Cristo?
- Que Cristo? Posso lhe afirmar que nem anti, nem nada. Para eu ser esse personagem aos seus olhos teria que crer em tal fabula. Concorda? Obrigado pelo atendimento. Até breve.
Sai do consultório com a devida expressão de o que tem a ver o cu com as calças, mas, entendo que a crença deixa as pessoas descrentes de outras opiniões, de outras visões, tendo como verdade o que na verdade eles no intimo descre, e, que por osmose, cultura familiar, ou, para ser visto com bons olhos propagam serem temente esse tal Deus e seu filho. Peguei a moto e segui para casa apagando esta cena besta para voltar a pensar nos tantos que podem ou não voltar...
Texto: O Hospital Português.
Autor: Osvaldo Rocha Jr.
Data: 08/10/2024 às 03:38