Humanidade
Olho para o mundo e parece que vejo dor e sofrimento e angústia. Parece que as pessoas estão desesperadas, sem saber aonde ir, a quem recorrer, como se estivessem perdidas, perdidas umas das outras e perdidas de si mesmas. Olho para o mundo e sinto que há dor e há assolação. Parece que está tudo tão pesado e sufocante. Incompreensões e inconstâncias. Não há paciência e não há amor. Será que sempre foi assim? Penso que não. Porque olho para o mundo e vejo pessoas com lágrimas nos olhos e mãos unidas esperando por um amanhã melhor, diferente, no qual lhes seja permitido sorrir. Pessoas em sofrimento e em lamento. Pessoas suplicando por uma ajuda.
E parece que ninguém ouve, ninguém sente, ninguém percebe.
Quantos distanciamentos e quantas inimizades. Quantas ansiedades e quantos medos. Desconfianças e incertezas. Falta de entrega suscitada pela falta de crença no sentimento que estão dispostos a oferecer. Todo mundo é um perigo em potencial. Inclusive nós mesmos. O que fizeram com o mundo? O que fizeram com os sentimentos? O que fizeram com a humanidade que em nós habita? Quando foi que deixamos nos esvaziar? E como é que ainda permitimos que isso aconteça? Caos e tragédia. Silêncio e mudez. Ninguém pergunta como o outro está. E ninguém responde. Ninguém se interessa genuinamente pelo outro que passou a ser visto como um mero objeto a ser desfrutado em busca de satisfações cada vez mais narcísicas e egoístas. E, como qualquer objeto, é simplesmente descartado ao terminar sua “utilidade”.
Mas como é que fomos capazes de definir seres humanos a partir de um conceito tão desumano como “utilidade”? É isso o que nos distancia e afasta. É isso o que não nos permite ter um encontro verdadeiro e despretensioso com aquele que a nós se assemelha em sua essência - é um humano como nós somos. Tudo tem sido colocado no pacote da utilidade. E tudo o que a perde, deixa de ter alguma razão para ser mantida conosco. Mas pessoas não deveriam ser colocadas nessa caixinha tão apertada e limitada. Uma caixinha que distorce e desconfigura. Uma caixinha que sangra e atormenta. Uma caixinha que sufoca e oprime. Uma caixinha que em nada agrega.
Talvez as dores do mundo só possam passar quando voltarmos a olhar para as pessoas não em busca de sua “utilidade”, mas atentos quanto à sua particular e singular humanidade. Porque é só pela humanidade que a dor cessará, o pranto terminará e as lágrimas serão enxugadas. Isso porque aqueles que se baseiam no conceito da humanidade não estão interessados em saber quem o outro é ou como pode lhes atender, estão, antes, sedentos por entender como aquela humanidade pode se encontrar com as deles. Não é utopia. Nem ingenuidade. Mas apenas o sentimento de humanidade é que pode nos reunir e agregar. Não somos objetos. Não somos descartáveis. Não somos meros acessórios que servem ao exibicionismo ou à coleção. Somos indescritivelmente humanos - com todas as belezas aqui implicadas.
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)