Modernismo hostil
Vivemos tempos estranhos. O que antes era reverenciado, agora é desprezado. O que antes era visto como o alicerce da sabedoria, como a experiência acumulada de gerações, hoje é considerado ultrapassado, obsoleto. Vejo com clareza como os valores foram trocados. Ser rebelde se tornou o ideal a ser alcançado, não como um ato de resistência necessária, mas como um fim em si mesmo. A rebeldia agora é uma moda, e o respeito, que antes marcava o equilíbrio das relações entre as gerações, foi deixado de lado como se não tivesse mais relevância.
O respeito pelos mais velhos, pelas lições que carregam, foi jogado fora com a pressa de criar algo novo. Mas, no afã de criar esse novo, a destruição não se limita às coisas que, de fato, mereciam ser superadas. Não, a demolição é total. Derruba-se tanto o que era prejudicial quanto aquilo que ainda carregava valor, aquilo que servia de base para o crescimento de uma sociedade mais justa. As regras que nossos antepassados criaram, não como grilhões, mas como um norte, foram quebradas. Agora, a liberdade parece ser sinônimo de caos, de uma falta de ordem que só nos afasta do que significa viver em harmonia. Olho para a música e sinto tristeza. O que antes era uma arte, a expressão de emoções profundas, de histórias contadas em notas e acordes, foi reduzido a uma fórmula. Ritmos repetitivos, palavras vazias, sons que não ecoam mais na alma, mas apenas se dissolvem no barulho incessante. Não é que não possa haver inovação na música, longe disso. A música sempre se reinventou, mas sem perder sua essência, sem abandonar seu papel de tocar algo mais profundo em nós. Agora, a busca pela originalidade tornou-se uma desculpa para destruir o que já funcionava, como se o novo, por si só, fosse melhor do que o antigo. Mas o que restou dessa inovação? Um som que não carrega substância, que não fala ao espírito. E não é apenas na música que essa destruição silenciosa se instalou. Os afazeres do cotidiano, as rotinas que mantinham a vida em ordem, foram trocados por uma necessidade constante de novidade. Não há mais valor na simplicidade, nas pequenas tradições que tornavam a existência mais significativa. A vida comum foi abandonada em favor de uma busca incessante por algo diferente, algo que constantemente desafia o que veio antes, sem sequer entender o que estava sendo desafiado. A normalidade, essa palavra que agora é vista com desprezo, era o que nos mantinha conectados ao nosso lugar no mundo. Era a repetição do conhecido que nos permitia criar algo mais, porque sabíamos onde estávamos e para onde poderíamos ir. Hoje, sem essa base, tudo parece incerto, efêmero. Nada dura. E essa fragilidade, essa falta de firmeza, nos enfraquece enquanto espécie. No impulso de destruir as normas e as tradições, acabamos por destruir a nós mesmos, pois perdemos o sentido de comunidade, de continuidade. O que será da humanidade sem a sabedoria do passado, sem o respeito pelo que já foi construído? Há muito a se corrigir, muito a se transformar, sem dúvida. Mas a pressa em destruir, em se rebelar contra tudo o que nos formou, está nos conduzindo por um caminho perigoso. Um caminho onde o progresso não é real, mas apenas a ilusão de movimento. E, nesse movimento incessante, estamos nos afastando de algo fundamental: a nossa própria essência como seres humanos, feitos de memória, de aprendizado, e de respeito por quem veio antes de nós.