Quem São Os Verdadeiros Parasitas da Nação?

Sobre Taxação De Dividendos, Por Uma Metáfora

Pedro Pedreiro*

morava num barraco, com sua família numa das pequenas ilhas de um arquipélago. Todas as ilhas desse conglomerado obedeciam ao governo instituído no continente. Todas viviam, a seu modo, alguma precariedade. A família de Pedro, conforme se pode pressupor, era paupérrima. O governo nunca acenou com qualquer ajuda real aos moradores daqueles arredores. Fazendo mão do assistencialismo, oferecia uma ajudazinha aqui, outra ali, sempre cuidando pra que Pedro e seus congêneres jamais se revoltassem pelas agrauras daquela pobreza subserviente.

Um dia, ruminando com seus botões, Pedro chegou à conclusão de que jamais alcançaria uma vida digna vivendo naquela ilhota. Tudo o que os sucessivos governos (fossem de "direita" ou "esquerda") promoviam era a conformidade de sua força de trabalho até as últimas gotas de seu suor. Então, quando já estivesse com "o pé no caixão", cuidariam para que recebesse uma quantia mensal ínfima - a título de aposentadoria - que seria totalmente tragada pela (nem sempre sutil) carga inflacionária do passar dos anos.

Então nosso herói reuniu seus esforços cognitivos e sua vontade de trabalhar para conseguir um pequeno barco, onde remasse sozinho em busca de uma ilha (conforme sonhava) paradisíaca. E o homem trabalhou! Trabalhou não, labutou! Labutou não, camelou! E a passos lentos (ou remadas lentas, para melhor riqueza contextual) foi progredindo. Em alto mar, em meio a tempestades e severas avarias na pequena embarcação, o governo - lá no continente - não se fazia presente para auxiliá-lo. Nem mesmo a luz de um farol, para guiar sua precária navegação de um modo seguro, era oferecida. Mesmo assim, admiravelmente, ele ia tocando o barquinho, aqui e ali, até que conseguiu trocá-lo por outro um pouco maior. E ainda contratatou um funcionário para auxiliá-lo! Aí um funcionário do governo apareceu, numa embarcação grande e luxuosa, informando-o sobre encargos trabalhistas que o homem havia contraído. Observações também foram feitas sobre o seu barco e a necessidade de que ele pagasse encargos tributários sobre alguns aspectos (o direito à navegação, o direito de negociar o que eventualmente pescasse, o direito de fazer propaganda sobre a natureza de suas atividades, entre outros). Também foi advertido de que a esposa e filhos não poderiam ajudá-lo na embarcação sem o devido vínculo empregatício. Logo após, o fiscal (e, por tabela, o governo) sumiram. De maneira que Pedro não teve tempo de pleitear auxílio de qualquer espécie. No entanto, de tempos em tempos, o fiscal não atrasou o seu retorno, um dia sequer, quando verificavam que Pedro havia contratado, por força das circunstâncias, mais funcionários (sem que, por esse motivo deixasse de trabalhar como um burro velho) aumentado o tamanho ou a quantidade de embarcações adquiridas; do mesmo modo que percebiam a evolução de seu patrimônio e o acúmulo de seus recursos.

Mais de trinta e cinco anos se passaram, e Pedro finalmente alcançou a ilha paradisíaca tão sonhada. Então, o homem juntou tudo o que havia ganhado, inclusive o produto da venda desse negócio que amparou sua vida, e decidiu - finalmente - descansar e viver dos percentuais que esse patrimônio lhe rendessem. Mas, o governo - que nunca o ajudou a chegar nessa ilha paradisíaca, que nunca ofereceu educação financeira para que ele soubesse fazer render seus esforços, que nunca ofereceu segurança para que ele não fosse acossado por piratas sanguinolenos, que nunca lhe prestou auxílio saúde digno (inclusive no plano preventivo), que nunca quis saber se ele estava desdentado ou não, prestando-lhe assistência odontológica, que nunca cuidou da conservação ou limpeza desse mar que servia de sustento a Pedro, quer cobrar-lhe imposto sobre os ganhos de hoje. Os ganhos de alguém que teve a inteligência de entender que não se pode depender de nenhum governo se o objetivo for, um dia, viver com alguma dignidade. Os ganhos de alguém que é acusado de ganhar sem produzir, e de ser um parasita da nação.

* Emprestado do personagem de uma música de Chico Buarque.

GEORGES
Enviado por GEORGES em 02/10/2024
Reeditado em 02/10/2024
Código do texto: T8164803
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