Cacos
O pedaço de caco desce rasgando pelas entranhas, assim como as palavras não ditas voltam para o peito.
Do que adianta andar mil léguas e não sair do lugar? Passos em vão, caminhada perdida, do que adianta correr se mal se sabe onde está? Cuidado existem lobos, suas mãos estão feridas e desprotegidas, não arrisque o resto de força que lhe resta.
Não o céu não está escuro, são apenas os olhos que já não enxergam mais a luz, elas ofuscam. Tente abrir os olhos, não chore, conte consigo mesmo, isso te curará dos males.
Os gritos do interior se calaram, foram abafados com a dor e o desespero, e na hora de cair tentou se equilibrar segurando em espinhos, mas não adiantou, rasgou as mãos e feriu o rosto em cascalhas e cacos, desmaiou, foi pisoteada pelo medo, insegurança, e claro a solidão. Teve seu corpo moído.
Ao acordar já haviam se passado dias, do que se alimentou? Da embriaguez!
Momentos torturantes foram deixados nas poucas horas de sono,
A voz que ecoa nos ouvidos, é a voz do lago de fogo para sempre, não pode, mas ela é tentadora, ela seduz, mas ainda sim as raízes fixadas no peito conseguem vencer essa angustiante batalha sem fim, e então é assim que o mundo tem dado suas voltas.
Os olhos já não dizem nada e o seu corpo corresponde somente ao automático, está se perdendo dentro de si tentando voltar para cá. Parece pequeno o interior, mas dá três vezes o tamanho da terra em que teria que ser seu verdadeiro habitat.
Beatriz Uyara
26/09/2015