busco o amor amanhã
outro amor se vai e eu fico aqui.
sinceramente, eu estou cansada. nem sei porque estou aqui, em frente a esse bar, me preparando para entrar em mais um ambiente desconhecido, com pessoas estranhas, para me sentar à mesa com uma pessoa eu não faço ideia de como seja. é, deixar minha amiga marcar mais um encontro em um aplicativo de namoro que eu detesto não é nada sensato. francamente, o que eu estou fazendo aqui? com esse vestido que é justo demais, com sapatos que apertam meus dedos e com uma maquiagem que esconde quem eu sou… a quem eu estou tentando agradar mesmo? ok, eu até me achei bonita, mais agora tudo isso me parece tão descolado da realidade. estou cansada de tentar. essas tentativas de encontrar um amor só me exaurem e desesperança o meu coração. estou cansada de fingir que não estou cansada de tentar de novo, de novo e de novo… eu já tenho o discurso preparado, como uma velha ladainha conhecida. enquanto beberico um drink, aguardo a minha companhia que já está atrasada para o primeiro encontro. não acho que seja algo positivo. mas não vou julgá-lo (ainda!). à mesa, eu observo meu novo interesse romântico. é bonito, bem arrumado, tem um certo charme pautado na indiferença. “oi, meu nome é anna, sou editora, ilustradora, gosto de café, gato e praia, caminho na praça e blá blá blá”. paro. “cê está prestando atenção em mim? porque eu sinto que nos encontros de hoje em dia ninguém presta mais atenção no outro. é um ringue em que há disputa de ego. cê está no celular, então o que estou falando não é nada interessante para ti. cê só enxerga a si mesmo. não tem paciência ou tempo para sequer me conhecer. cê não está ouvindo o que eu estou falando. então, isso aqui é uma perda de tempo para nós. talvez seja por isso que todo mundo está desesperado por amor e só encontra desilusão. porque numa terra de egos é impossível encontrar amor de verdade, conexão, química, esforço”. ele para e me olha, mas não diz nada. bom, pelo menos agora prestou atenção em mim, pela primeira vez na noite. mas já deu. deixo uma nota em cima da mesa e me levanto. nem me dou o trabalho de esperar meu pedido chegar ou dizer adeus. só me encaminho à porta. eu não sou refém do amor romântico, apesar de torcer para encontrar um amor como os de livros, numa esquina, talvez, por sorte, alguém esbarre em mim e, boom, amor verdadeiro. porém, ao mesmo tempo que tenho essa esperança boba, ingênua e bonita, eu tenho um cansaço muito grande dentro mim que não aguenta mais começar de novo e de novo… chamo um táxi e torço para chegar logo em casa, tirar essa fantasia de mulher interessante, colocar o pijama, abrir um vinho e ler algumas páginas do novo romance. há muita falação de amor, mas poucos sabem amar. por hoje estou cansada dessa busca. quem sabe eu tento amanhã de novo.