———————.> superficialidade

O mundo está cheio de tantas coisas e tão vazio de consistência. Vivemos uma inundação do nada e nos afogamos no vazio.

Às vezes, enquanto caminho pelas ruas, observando a correria e o frenesi ao meu redor, não posso deixar de sentir uma estranha dissonância. O mundo está, paradoxalmente, repleto de tanta coisa — sons, imagens, vozes, luzes, informações e doutrinações — e, no entanto, essa abundância parece carregar um vazio quase palpável. É como se estivéssemos cercados por um mar de informações e estímulos que, em vez de nos enriquecer, nos afogam em um abismo de superficialidade.

Sinto que vivemos uma inundação do nada. A cada notificação que chega ao meu celular, a cada post que deslizo na tela, há uma sensação de que estou me afogando em um oceano de trivialidades. As redes sociais, que prometem conexão, muitas vezes se transformam em um espaço onde a autenticidade se dissolve, dando lugar a uma competição incessante por atenção e aprovação. O que deveria ser uma janela para o mundo muitas vezes se torna uma cortina opaca, obscurecendo as nuances da vida real.

Neste turbilhão, percebo que as coisas que nos cercam — mercadorias, tendências, opiniões e informações — não possuem a consistência que buscamos. Elas são efêmeras, fugazes, como ondas que se quebram na areia, como embalagens que disfarçam um produto inexistente. A superficialidade se infiltra em nossas interações, e o que antes era um diálogo significativo se transforma em trocas vazias de palavras, como ecos em um corredor deserto. O contato humano, que deveria ser um bálsamo para a alma, se torna uma commodity, algo a ser consumido rapidamente antes de passar para a próxima distração.

E assim, me pergunto: onde está o sentido? Onde estão as experiências que realmente nos tocam e nos transformam? Muitas vezes, sinto como se estivesse navegando em um barco furado, tentando desesperadamente manter a água fora, enquanto a inundação continua a ameaçar meu equilíbrio. O que fazer quando a vida parece um desfile de coisas que não ressoam, um espetáculo de luzes que não iluminam?

A reflexão me leva a perceber que não é a quantidade de coisas ao meu redor que define minha realidade, mas sim a qualidade das experiências que escolho viver. É um convite à introspecção, à busca por momentos de silêncio em meio ao caos. Começo a entender que a resistência ao vazio não está em acumular mais, mas em buscar a profundidade nas interações, na arte, na natureza e, principalmente, em mim mesmo.

A inundação do nada pode ser aterrorizante, mas também é uma oportunidade. Uma oportunidade de filtrar o que é realmente importante, de me reconectar com o que traz significado. Ao invés de me deixar levar pela correnteza, posso escolher mergulhar nas águas tranquilas da contemplação, explorando o que realmente importa. E, assim, ao invés de me afogar, posso aprender a nadar, encontrar um espaço onde a consistência reside, mesmo que seja frágil e delicada.

Neste caminho, a busca por autenticidade se torna um farol, guiando-me através das brumas da superficialidade. O desafio é abraçar a incerteza e a vulnerabilidade, permitindo que elas façam parte da jornada. E, enquanto navego por este mundo repleto de tanto e, ao mesmo tempo, tão vazio, posso finalmente começar a preencher os espaços que importam, construindo uma vida que, embora imperfeita, é rica em significado e profundidade.

No máximo, a beleza é importante nos primeiros quinze dias; e então morre em um tédio visual insuportável.

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Victória Moore
Enviado por Victória Moore em 18/09/2024
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