Criar raízes
Lembrando-me de Bauman e de seus escritos sobre a liquidez da vida, peguei-me pensando sobre o quanto as coisas têm estado tão superficiais. Muitos podem ser os exemplos. Desde alguém que, estudando, pouco se aprofunda no conteúdo do que está sendo ensinado, até alguém que, permitindo-se a um relacionamento, pouco se interessa genuinamente por aquilo que acontece entre ele e a outra pessoa. O resultado? Tempos cada vez mais voláteis, frágeis, sem sustentação. As coisas têm desmoronado. As pessoas. É como se por coisas pequenas, bobas até, tipo uma brisa, a mais grandiosa das construções, pelo menos em aparência, se transforme em um amontoado de poeira.
“Quando as raízes são profundas, não há razão para temer o vento” (Autor Desconhecido)
E penso que parte da justificativa para essa superficialidade de nossos tempos se dê pela falta de paciência daqueles que, extremamente imediatistas, não sabem apreciar o processo. Pois é como se dá o processo que indica se o resultado será sólido e consistente ou frágil e vazio. Pois é no processo que a construção é, de fato, realizada. E se os materiais ali colocados não forem de qualidade, não tiverem força e resistência suficientes, por certo que o produto de sua soma não terá capacidade alguma contra os ventos da vida.
Raízes profundas podem nos salvar dos perigos da superficialidade, mas exigem de nós paciência, constância e perseverança. Seja o que for que estivermos vivendo em nossas vidas. Se um relacionamento amoroso, a construção de uma carreira ou a profissionalização dentro de uma graduação. Não importa. Para que tenhamos profundidade naquilo que vivemos é necessário que respeitemos o tempo de as raízes se aprofundarem e se firmarem. É como uma bela e robusta árvore que tem resistido às estações e até mesmo aos séculos. Suas raízes são fortes, volumosas e profundas. Mas nem sempre foram assim. Um dia, em um dia bem distante, ela foi uma mera e desprotegida sementinha que, uma vez plantada, deu o seu broto. E, outra vez, o crescimento não se deu da noite para o dia. Claro que não. Anos foram necessários para que ela se tornasse o que se tornou e suas raízes se aprofundassem o bastante para sustentá-la em pé contra os ventos raivosos de tempestades furiosas. Foi necessário paciência. Isso porque a natureza tem o seu tempo e tem o seu ritmo. Tentar apressá-la é um erro.
O mesmo serve às nossas vidas. Quer profundidade? Quer uma estrutura que não desmorone bastando um ventinho de fim de tarde? Então se aprofunde. Permita-se aprofundar sem perder de vista que isso leva tempo, não é repentino, pelo contrário, é lento e é tranquilo. E que bom que é assim! As coisas precisam de tempo para serem assimiladas e integradas e, enfim, frutíferas. Resta a nós, em meio a um mundo absurdamente apressado, retornarmos à natureza e compreendermos que as mais belas, robustas e corpulentas árvores levaram anos para crescerem rumo aos céus.
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)