Quando Chegar a Visita do Ceifeiro
Quando o Ceifeiro bater à minha porta,
onde estarei? Sob o céu, ao relento?
Ou talvez entre quatro paredes,
num silêncio que ecoa o esquecimento?
Quem atará minhas mãos, desfeitas de vida,
com laços de saudade ou de medo?
E quem ousará fechar meus olhos cansados,
se neles o mundo já não mais vejo?
Talvez, quando vier, não haja lamento,
apenas a sombra suave de um adeus.
O vento sussurrará nos cabelos dos vivos,
enquanto me desfaço nos braços de Deus.
Chegará a hora, sem pressa ou aviso,
e o tempo já não terá o mesmo valor.
O Ceifeiro, sereno, fará sua colheita,
e a morte será apenas um novo sabor.
Onde estarei? Talvez não importe.
Nas memórias dos outros, ainda estarei lá.
Minhas mãos atadas, meus olhos cerrados,
mas meu espírito, enfim, livre estará.