Acordei pensando em tudo o que já aconteceu na minha vida.
Não como um balanço do que houve, mas recordação.
Fui à praia caminhar.
Quanto mudei ao longo dos anos!
Onde estão meus ideais da juventude?
Onde estão meus sonhos da adolescência?
Onde estão meus interesses? Objetivos? Ideia de amizade?
Sentimentos, crenças, amigos, pessoas com as quais convivia?
Onde estão?
Ao longo dos anos se foram.
Partiram.
Mudaram.
Modificaram.
Os perdi?
Deixei-os ir? Ou fugiram de mim?
Alguém que se aproximou de mim os afastou?
O que fiz, ou não fiz, para a realização de tudo?
Ou ao longo dos anos eu fiz.
Parti.
Mudei.
Modifiquei.
Os fiz irem? Os fiz fugir de mim?
Deixei que alguém que se aproximou de mim os afastasse?
Os afastei?
Vi-me olhando para trás e vendo aquela que fui.
Não consegui ver aquela que queria ser no início.
Procurei em cada pegada que deixei no caminho ao longo do tempo.
Cada uma.
Analisei uma por uma.
Em algumas vi meus vestígios iniciais.
Em outras nem resquícios do que pretendia.
No entanto, parada olhando minhas pegadas, não estou triste, nem muito decepcionada.
Olhando vejo que por vários motivos tive que mudar:
A direção a seguir;
O caminho difícil;
A estrada pedregosa;
As pessoas difíceis colocadas no caminho;
Os socorros que prestei;
As mãos necessitadas que amparei;
Os ouvidos que emprestei aos necessitados de serem ouvidos;
As lágrimas que derramei por tantos e por mim;
Os olhos que olharam o céu e viram a luz suave que banhava o antes e o agora.
Olho para frente e vejo o que terei ainda a seguir.
Ao longo de toda a jornada colhi as sementes que plantei.
Feliz, triste, alegre, emocionada, decepcionada, irritada, chorosa, enfim as que plantei.
Suavemente e agradecida, descalço minhas sandálias e sigo, neste instante, em direção ao mar.
Não para sumir, mas sim para purificar, limpar energias.
No retorno, renovada, calçarei outras sandálias para a jornada que ainda tenho a seguir.
Pronta para o que for necessário.
Sibeli Figueiredo
29/04/2020