O interesse politico na historia como narrativa dificulta o processo cientifico do entendimento histórico
Quem controla o passado controla o presente, e quem controla o presente controla o futuro, diante dessa dinâmica, o todo social em seu esgarçamento da modernidade capitalista através do pensamento pós moderno, e do processo de desconstrução, que desconstruiu até mesmo a dinâmica da desconstrução, identidade e singularidade como processo de busca do homem, traz uma percepção clara, tudo é narrativa.
Para o pensamento social, e principalmente político, tudo é narrativa e utilizável nos mais variados processos, principalmente naqueles vinculados ao ganho de poder, mas qual seriam suas bases? Quais seriam as ferramentas de utilização do pensamento moderno em determinar a narrativa histórica como verdade absoluta determinando inclusive vínculos coletivistas de causa e efeito?
O processo cientifico, como no ensina Karl Popper, deve ser realizado através dos métodos de comprovação (empíricas), falseabilidade e do tempo, através do que chamo de dialética cientifica.
Esse processo portanto coloca o conceito em confronto direto com a realidade, e com os pensamento de seus pares científicos, e no caso da historia como processo cientifico de entendimento dos acontecimentos do passado não seria diferente.
Um historiador, através de documentos, testemunhas, arqueologia e vários outros métodos, levanta hipóteses, busca maior base de comprovação, maiores provas de contexto, apresenta, ou deveria apresentar falseabilidade, e publica sua tese, diante da publicação, cabe a seus pares a refutação, questionamentos através de outras teses, com as mesmas bases apresentadas.
Não há dúvidas que o processo cientificista nasce com forte influência Hegeliana, essa influência tem por base o absoluto da história, onde seu entendimento apresenta, uma evolução necessária da história, essa como um espirito absoluto, através de um processo dialético.
No processo dialético, a história conduz seu arcabouço ´´ aprendizado ´´ através de todos os espíritos existentes ou que já existiram, e assim determina uma influência sobre o pensamento humano que conduz o todo social, lembrando, necessariamente para evolução de si (espirito absoluto)
A ciência não determina verdades absolutas! Ela apenas condiciona teses prováveis sobre os acontecimentos, que podem ser verdadeiras, ou não, de acordo com sua ´´ sobrevivência ´´ no tempo, na condicionante de refutação.
E a teses de evolução dialética não apresenta, senão seu próprio conceito, nenhuma forma de verdade absoluta, pois se assim fosse não haveria dialética possível, portanto, suas bases detém uma mesma forma de validação, o tempo como forma de segurança sobre determinada tese, mas sempre em possibilidade de ser refutada, mas suas diferenças determinam condições totalmente divergentes sobre o entendimento da realidade.
Podemos dizer que é por isso que verificamos muitos do campo cientifico da história com um viés de esquerda dialético, influenciado pela dialética marxista.
Mesmo entendendo que a concepção de espirito absoluto da história seja uma ilusão metafisica, uma deturpação do entendimento, podemos observar as diferenças entre os dois conceitos.
Hegel apresenta uma concepção necessária de fio condutor evolutivo logico e absoluto da história, e a ciência busca determinar a lógica de determinadas teses, com o objetivo de conceber o entendimento sobre a realidade presente e através desse aprendizado, conceber causa e consequência sobre as ações presentes, pelo menos deveria ser assim, mas, mesmo diante dessa diferença, e talvez com base na realidade pela qual o entendimento da história muitas vezes não faz diferença sobre os acontecimentos do futuro, diretamente, que nos parece que houve uma fusão de cosmovisões entre as duas frentes, em que nessa visão ontológica, através do fio condutor do espirito absoluto a ciência determinara o futuro, ou o que é melhor ou pior para o futuro, essa fusão detém um problema de pressuposto, pois o espirito absoluto não pode ser comprovado através do método cientifico, e se há o viés com base nessa teoria, não haverá o contraditório do tempo sobre a empiria para refutar ou não as teses apresentadas, ou seja, tudo vira uma simples narrativa imposta por projeção de autoridade diplomada.
A fusão dos dois conceitos culmina na realização do que se entende hoje da história como simples narrativa, como entendimento subjetivo imanente sobre o qual vale apenas a imposição de poder, assim, se pode reescrever a história a cada momento, de acordo com os interesses do poder vigente.
Sendo assim, a própria realidade se deturpa através de narrativas de poder, e se esvazia de sua própria condição de efetividade, esvaziando todas as outras possibilidades de refutação, pois, como devemos lembrar, toda a base cientifica tem por pressuposto a ´´ sobrevivência ´´ sobre o contraditório, essa sobrevivência se dá no tempo, em sendo no tempo, se apresenta como história e retornamos ao início com a fusão das teses da dialética hegeliana e cientifica.
Com isso toda a configuração de entendimento sobre a efetividade, pressupostos como identidade, singularidade estarão necessariamente em constante insegurança sobre o entendimento racional, pois em sendo esses parâmetros necessários para o homem e sua ´´ felicidade ´´, seu esvaziamento alcançara o desespero como chave existencial.
A identidade e singularidade, os exemplos apresentados, necessitam do contraditório dialético para compor-se, isso quer dizer que há a necessidade de parâmetros externos para o entendimento de sua condição, digamos, interna, com isso poderíamos questionar a imanência, pois essa seria uma base fundamental para tanto, mas esse não é nosso objetivo, se esses parâmetros podem ser diretos, com pessoas, objetos e impressões sobre os que estão a nossa volta, mas também indiretos, através do entendimento histórico, influencias de sua cultura e etc, estão em constante ´´ modificação ´´ narrativa a desvirtuação de sua própria identidade será uma constante, sendo assim, não há a possibilidade de entender-se, ou de construir-se, aqui as duas formas de pensamento sobre a identidade, que também não nos cabe no momento.
Não há base de comparação externa possível, tudo se liquidifica, se massifica, o homem deixa de ser em si um ser racional, diante disso, o coletivismo, o entendimento de que um coletivo tem um único pensamento e que isso é passível de entendimento, se torna real, não por ser verdadeiro, mas por ser induzido, construído ´´ virtualmente ´´.
A abstração toma o todo do entendimento, pois o poder ´´central´´ determina o pensamento coletivo, assim, o totalitarismo se faz possível e não haverá outro caminho senão o mal banal e corriqueiro.
Aqui estou utilizando o conceito de totalitarismo que se buscou nos modelos modernos, o controle do pensamento das pessoas, onde o estado determina o pensamento dos indivíduos.
O centro pós moderno detém esse pressuposto totalitário, seguindo a cartilha sobre o qual a ciência história, sobre forte composição com a dialética hegeliana, determina, por isso podemos observar a medicação em larga escala das pessoas, os movimentos identitários, cada vez mais radical, a polarização política, o subjetivismo imanente, a angustia social, as radicalizações nas mais diversas vertentes. Podemos tentar discutir como se chegou a isso, acredito que sobre os movimentos totalitários que existiram no século XX, não entendidos totalmente, e que em sua diluição sobre o corpo social, determinou modificações nas estruturas de poder, como eu sempre digo, agua na groselha fica rosa.