SER AUTOMÁTICO

O coração bate em um ritmo constante, invisível, mas presente em cada segundo da nossa existência. Esse pulsar incessante, que nos mantém vivos sem que precisemos sequer pensar a respeito, é uma sinfonia interna de movimentos automáticos. Cada batida é um lembrete silencioso de que a vida continua, mesmo nos momentos em que estamos distraídos ou absortos em nossos pensamentos.

A respiração é outro desses milagres cotidianos. O ar entra e sai dos nossos pulmões sem esforço consciente, um ciclo contínuo que nos nutre e nos conecta ao mundo ao nosso redor. Inspirar e expirar é um movimento tão natural que muitas vezes nos esquecemos de sua importância, até que algo nos faça parar e prestar atenção – um suspiro profundo em um momento de alívio ou a sensação de falta de ar diante de uma emoção intensa.

Esses processos automáticos do corpo – os batimentos do coração, a respiração – são vitais e, paradoxalmente, fáceis de ignorar. Eles são a base invisível sobre a qual construímos nossas vidas, tão intrínsecos à nossa existência que se tornam quase invisíveis, assim como os pensamentos automáticos que habitam nossas mentes.

Os pensamentos automáticos fluem como um rio subterrâneo, guiando nossas ações e reações sem que percebamos. Muitas vezes, eles são respostas condicionadas, formadas ao longo dos anos por experiências, traumas e hábitos. Podemos estar andando pela rua, sentindo o sol na pele, e de repente um pensamento surge: "Preciso lavar minhas roupas." Ou então, ao ouvir uma música familiar, somos transportados para um momento do passado, revivendo emoções antigas sem sequer perceber.

Assim como a respiração e os batimentos cardíacos, esses pensamentos automáticos desempenham um papel crucial em nossas vidas. Eles moldam nossas percepções e influenciam nossas decisões, mas raramente paramos para questioná-los ou entender sua origem. Eles são o pano de fundo mental sobre o qual pintamos o quadro da nossa consciência.

Mas, ao contrário dos processos fisiológicos, podemos aprender a observar e, eventualmente, alterar nossos pensamentos automáticos. Práticas como a meditação e a atenção plena no agora nos ensinam a trazer esses pensamentos à superfície, a reconhecê-los pelo que são e a decidir conscientemente se queremos ou não permitir que continuem a guiar nossas vidas.

A beleza da nossa existência está em reconhecer essa dualidade – o automático e o consciente, o corpo e a mente. Quando prestamos atenção aos nossos batimentos cardíacos ou à nossa respiração, nos conectamos a uma parte fundamental de nós mesmos, um lembrete de que estamos vivos. Da mesma forma, quando observamos nossos pensamentos automáticos, ganhamos a oportunidade de nos libertar de padrões inconscientes e viver de forma mais plena e consciente.

a vida é um delicado equilíbrio entre o que fazemos automaticamente e o que escolhemos fazer conscientemente. E é nesse equilíbrio que encontramos a verdadeira essência do ser, uma dança harmoniosa entre o coração que bate, o ar que respiramos e os pensamentos que moldam nossa realidade.