Linguagem: Um Caminho Para a Omissão

Linguagem: Um Caminho Para a Omissão

Ludwick Bolach

29/10/2018

Revisado 03/09/2024

Muitas vezes me param na rua e me perguntam:

-Ludi, por que você vive dizendo que a linguagem é omissa?

Bem, a vocês que tem tal duvida, resolvi escrever esse pequeno (espero) texto.

O que seria a linguagem? A linguagem é a forma que nós, humanos, nos comunicamos, transmitindo informações de um humano a outro.

Ai com uma duvida me falou um amigo:

-Mas as palavras de um livro não são humanos, são letras em papel.

Sim, escritas por humanos, impressas por humanos.

Outro, disse:

- meu cachorro dá risada quando me vê, ele não está se comunicando comigo?

De fato, está, mas uma pessoa que odeia, ou ao menos teme cães, vê o mesmo sorriso como uma ameaça, isso nos mostra uma das faces da comunicação: ela depende das experiências e conhecimentos, em síntese, crenças de cada individuo. Portanto, quando dizemos “um humano a outro”, pode ser aquele que recebe a comunicação quem transmite a si mesmo.

De que forma? Quando estamos com alguma doença, cansados, sonolentos e afins, alguém nos diz: “quer ir na praça?” e nós interpretamos “quer ir na praça fio de uma rapariga?” O cansaço nos induz a colocar emoções em lugares que elas supostamente não estão. Assim, um convite doce, amável, gentil e maternal se torna uma bronca cavala do Tião borracheiro.

Por que isso ocorre?

Se Deus quiser teremos uma luz nas próximas linhas, mas antes um aviso:

O que aqui está escrito será usado pelo mal, com a intenção de desviar-nos do caminho de Deus, nosso Senhor, dando força ao maligno. Não apenas faço a vontade de Deus em escrever, como não temo, já que é por Vontade Dele a permissão e Seu desejo.

Por que isso ocorre?

Quem comunica é um humano, cheio de sentimentos e interpretações. Quem recebe é um humano, com um adicional: a mensagem é transmitida de com certa distancia, essa é tanto a área do que chamamos físico, como na chuva ou num bosque mal iluminado, cujos sons inferem no áudio do que é dito, como na parte interna da mente, onde alegria, tristeza, ódio e amor interferem no que é escutado.

Ou seja, eu penso em uma cadeira azul, uso as palavras para dizer ao Manuel:

-uma cadeira ficaria legal nessa sala.

Manuel, que brigou com a esposa pensa “é brincadeira? Já não basta essa sala roxa amarelada, o cara quer colocar uma cadeira rosa pra cagar em tudo de uma vez? Deve ser minha esposa que mandou esse cara me encher o saco”.

Eu pensei numa cadeira, Manuel em outra. Eu transmiti em um meio, uma distancia, com sentimentos tranquilos, Manuel que estava brigado com a esposa que gastou 100 reais em um jogo de potes para maionese estava meio puto. Ou seja, uma informação aparentemente neutra se revela causadora de discórdia.

Talvez o problema esteja em ter sido pouco especifico, então poderia ter dito:

-Sei que está brigado com sua esposa e não quero que pense nisso agora, peço apenas que analise, sem compromisso, se não ficaria legal uma cadeira azul marinho com esse roxo da parede, sua analise é importantíssima, por isso se não gostar entenderei, beijos de luz.

Daria certo? Sabe Deus, mesmo estando mais completa, ele pode ouvir azul marinho e imaginar no lugar azul bebe por algum erro interno dele, ou ainda assim interpretar minha fala como uma provocação. De qualquer maneira, o meio interno dele influenciaria a interpretação, mesmo se ele apenas entender exatamente o que eu falar, afinal, se ele entender foi por que seu meio interno estava tranquilo.

Portanto, percebemos que

1-Quem comunica usa palavras para falar do que conhece, essas por vezes não são usadas da mesma maneira pelo ouvinte, esse que ouve e interpreta de acordo com o que conhece, sendo que nem sempre pensam igual ouvinte e falante.

2-A mensagem sofrera alteração do meio por onde se propaga, pois, um discurso raivoso cheio de ódio dito quando, do nada, alguém peida, acaba perdendo um pouco sua força. Ou quando a Chuva bate, fria e constante, com seu timbre suave, adocicado nas telhas da favela, atrapalhando a novela, fazendo a antena chiar.

3-o meio interno atrapalha a recepção e emissão da mensagem, fazendo a palavra de amor virar ódio e um não virar talvez, quem sabe sim.

Por esse motivo, a linguagem, que é a forma como nos comunicamos, é omissão, pois ela consegue:

Levar a mensagem exatamente como se queria,

Levar a mensagem com alteração do meio externo,

Levar a mensagem com alteração do meio interno,

Mudar a mensagem e outros afins.

Isso independe se a mensagem é falada, dita em língua de sinais, por cores, por cheiros, por gostos e qualquer outra coisa.

Fim para quem busca o superficial. Pode seguir sua vida e seja feliz se possível. Ultimo conselho: use camisinha.

Bem, para aqueles que querem ir um pouco mais a fundo nesse pântano florido, continuemos.

A comunicação se dá através dos sentidos, a saber: audição, tato, paladar, olfato e visão. A fim proteger os casamentos nacionais, não falarei do sexto sentido feminino, esse que consegue, através de outro sentido, descobrir as puladas de cercas ou farras dos maridos ou namorados, mas ele existe, na duvida, fique experto, se não a casa cai.

A adição acontece por meio dos sons e do que não é som. Mas é necessário que, para sabermos que estamos ouvindo, haja mudança no som escutado. Se uma pessoa nascesse e escutasse por toda sua vida a nota ré menor na sétima, sem nunca variar nem para um solzinho, como ela saberia que escuta uma nota? Nos sabemos por que escutamos varias notas. E silencio, aparece, como uma delas. A audição consiste no ouvir notas e o que não é nota, mas se comporta como tal. O silencio é percebido como algo existente, não como ausência de audição. Pois, sabemos que não estamos ouvindo nada e não que estamos sem audição. Sendo assim, para nossa percepção, algo pode ter ou não som. O sol quando o percebemos não parece ter som. Um carro parece ter som.

Diferenciamos ainda um carro ligado ou desligado em parte pelo som ou ausência deste. Mas se sofrermos um acidente e perdermos a audição, saberemos que mesmo sem som, o carro pode estar ligado, mas nós que não ouvimos. De igual forma, saberemos que o carro pode estar desligado, nós que não percebemos o silencio.

Por que o silencio não é perder a audição, e alguém que perde a audição sabe que está deixando de perceber através dela, o que não ocorre com quem nasce surdo, pois não sabe nem o que é silencio nem o que é som. Digo baseado em uma intensa e imensa pesquisa que conduzi com grupos de surdos de nascença e surdos após a vida adulta, conduzida pessoalmente por mim no “Instituto Laurencio de Algustus e Silva Jusx de Pesquisas Relacionadas as Sentidos”, desde Maio de 2013 à junho de 2014. Pode confiar. Ou não, acredito que seja melhor não, então vá conferir por conta própria.

O tato, paladar, olfato e visão ocorrem de maneira análoga. Não pretendo me estender, portanto resumo:

Tato pelas sensações do tato: calor, frio, pressão, ausência de algo.

Olfato pelos cheiros, sabores e a ausência de algo.

Paladar pelo doce, amargo, azedo, salgado e liame (que dizem ser do tato mas sei lá, não é relevante por hora) e sua ausência.

Visão pelas cores e pelo que não é cor, mas que curiosamente dizemos ser a cor preta, ela que da uma noção de profundidade que nos leva ate um lugar quase sem fim, mesmo quando se trata de algo a centímetros de distancia. Poderia ser melhor definida como luz e ausência de luz, onde enxergamos tudo preto. Cabe na visão um adendo: quando um cego é de nascença, ele não enxerga tudo preto, pois, para saber o que se vê, é necessário ter o sentido da visão e esse inclui ter algo para contrastar, para saber que quando não é uma cor presente na visão, é outra. Então o cego não sabe que enxerga preto, a não ser que tenha ao menos uma vez na vida uma outra cor presente em sua visão, o que seria ter o sentido da visão. Pesquisa realizada no mesmo Instituto citado anteriormente.

Por que isso ocorre?

Por que há informações que vem de forma externa a nós e outras que vem interna a nos.

Mas se for assim, pode haver pessoas que enxerguem uma cor como se fosse outra, ou mesmo a ausência de luz como se fosse outra cor que não preto. Sim, e na verdade, o azul que um vê bem pode ser o que outro chamaria de verde e um terceiro de roxo. Mas vendo todas as cores e seus contrastes, um que chama de verde algo recebe aprovação dos outros dois, pois cada um, vendo à sua maneira, a nomeou de verde. Entendeu? Puta chato essa parte.

Saca só:

O Alan vê o verde verde.

O Bruno vê o verde pelo que o Alan chamaria de azul.

O Carlos vê o verde pelo que o Alan chamaria de azul e o bruno de vermelho.

Mas como todos enxergam uma cor pela outra, apenas os nomes mudam.

Não se trata, portanto, de daltonismo. A viagem é outra e meio irrelevante.

Mas o principal é evidenciar o modo subjetivo com que cada um vê o que vê, ouve o que houve.

Talvez seja por isso que algumas pessoas gostam de vermelho e outras de verde, talvez todas as cores que as pessoas mais gostam sejam a mesma, mas variam de acordo com a subjetividade. Credo, mais um pouco e Raul Seixas aparece criando uma musica.

Vamos ao centro da questão.

Ao perceber cada sentido de sua maneira, temos a seguinte situação:

Um objeto qualquer será percebido pelos 5 sentidos.

Ou seja, quando vemos uma maça, vemos, ouvimos, cheiramos, saboreamos e tateamos.

Como? Por meio de nosso pensamento. Pois vemos que a maça tem tal cor, não tem cheiro, sabor ou som se ela estiver a uma certa distancia, pela memória, que ela é dura ou meio macia, dependendo se já comemos maça argentina ou krity. Perceba que os cincos sentidos formam o global do que conhecemos da maça.

Ou seja, não é que ela não tem cheiro, não percebemos o cheiro dela. Não é que não tem sabor, não percebemos seu sabor. Pode ser que tenha sabor de nada, mas esse nada é algo percebido.

Logo, veremos que isso é ilusão, mas saca que louca a viagem.

Cada sentido podemos dividir em vários aspectos, a saber, do paladar doce, amargo, salgado, azedo e sem gosto. Mas podemos com a intenção de diminuir a analise resumir em dois principais: ter e não ter.

Assim, percebemos com os cinco sentidos e sob o aspecto do ter ou não ter.

Perdoe minha matemática, mas nesses casos, as combinações possíveis para observar um objeto seriam:

5 sentidos, dois aspectos, 10 possibilidades.

Sem repetir seriam:10x9x8x7x6/(10-5)!=252

Repetindo seriam: 10x9x8x7x6= 30240

Eu não sou muito bom em matemática, mas parece um tantão.

Lembrando que estamos falando de dois aspectos de sentidos que percebem mais de dois, o paladar de 4 ou 5(maldito liame), visão varias cores, sons em diversas tonalidades e timbres, enfim.

Mas não é isso o interessante.

O interessante é que a ordem importa. Há diferença de primeiro ter a visão e depois o tato.

Imagine cada situação seguinte:

1-Você esta na rua quando vê uma pessoa de camiseta marrom e um forte cheiro de fezes.

2-Você esta na rua quando sente um forte cheiro de fezes e em seguida uma pessoa de camiseta marrom.

3-Você está na rua e vê ao mesmo tempo em que sente um forte cheiro de fezes uma pessoa de camiseta marrom.

Perceba que há diferença quanto ao tempo. Primeiro uma depois a outra percepção, ou ainda as duas juntas.

E ainda piora na terceira opção, uma vez ao ouvir ou ler a frase, primeiro nossa imaginação constrói uma ideia baseada na primeira palavra e depois a outra. Ou seja, na terceira frase, primeiro você fica sabendo do cheiro de fezes e em seguida da cor da camiseta.

Para essa terceira frase, poderíamos criar uma palavra que significasse as percepções de cheiro de fezes e camiseta marrom juntas, seria “você esta na rua e percebe uma pessoa gsgsgs na sua frente”. O problema é que quem interpreta a frase pode pensar nas duas ideias ao mesmo tempo, ou na hora de traduzir em pensamento o que a palavra gsgsgs significa, primeiro pensa em camiseta marrom ou primeiro pensa em cheiro de fezes.

Digo isso para reafirmar que a ordem como percebemos, se primeiro um, outro ou juntos os sentidos, alteram a forma que interpretamos as coisas do mundo e a maneira como interpretamos as palavras.

Pois, sabendo disso, vejamos o que a palavra explosão significa.

Como vimos, temos 30240 formas para nos referirmos a uma explosão.

Mas vamos usar três sentidos apenas para imaginar melhor.

-Estava eu andando e vi um clarão seguido de um estrondo e um vento forte.

-Estava eu andando e ouvi um estrondo seguido de um clarão e vento forte.

-Estava eu andando e senti um vento forte seguido de um clarão e um estrondo.

-Estava eu andando e senti ao mesmo tempo um clarão, um estrondo e um vento forte.

-Estava eu andando e percebi uma explosão.

Perceba que esta ultima forma reuni qualquer uma das outras anteriores, fazendo com que aquele que recebe a comunicação interprete de qualquer uma das maneiras. Por que isso ocorre? Por que quem escuta vai montando em sua mente o passado ou imaginando o futuro de acordo com o que vai lendo ou ouvindo. Tem quem vá montando aos poucos, tem quem primeiro ouça ou leia tudo e monte de uma vez, tem quem nem consegue montar porra nenhuma. Por exemplo, imagine o irmão do Claudio jr. Tem quem começa a montar o irmão, a relação “do” e quando chega no Claudio jr, imagina um boneco palito. Há quem nem imagina nada disso e já responde:”quem é Claudio jr?”

O importante é entender que a ordem dos fatores altera o resultado.

Outro aspecto das palavras é que elas são omissas. Elas revelam apenas um ou outro de nossos sentidos. Por exemplo, a palavra clarão não esta dizendo que há cheiro, tato ou paladar. Não diz que não há. Qual o cheiro de um clarão? Qual o som?

O mesmo ocorre com a palavra abraço. Ela não revela o cheiro do abraço, nem se há isso.

O problema é que os cinco sentidos estão presentes em tudo o que experenciamos e não vemos abraço sem outros sentidos nem tampouco clarão. Onde você viu um abraço? Imagine você abraçando um mendigo na rua. Qual o cheiro do abraço? Pois é, sem duvida falar abraço de maneira geral é diferente de um abraço no mundo. Pois na palavra abraço, comete-se a omissão de informar que seria um abraço sem cheiro, tato, paladar, som. Omissão, mas está subentendido? Não. Pois alguém que só abraçou mendigo a vida inteira, ao ouvir você pedir um abraço fará num primeiro momento uma careta, e depois de abraçar este seu corpo cheirosinho, adicionará uma nova forma de perceber o que é um abraço, não sendo apenas mal cheiroso, mas também bem cheiroso. O mesmo ocorre em quem sempre recebe um abraço quando há um som, como uma frase “te amo gatona(ão)”. Na hora h, onde a frase sempre é dita, ela estranhara se não falarem esse xodó de frase e dirá:

-Ué, você não vai dizer te amo gatona(ão)?

Assim, perceba o que se diz quando falo que comunicação é omissão.

Ela depende de como cada pessoa percebe o mundo e o molda de acordo com sua experiência sensitiva, sendo que alguns primeiro visualizam mentalmente, outros ouvem, enfim, a mesma palavra gera milhares (dramático, talvez centenas, mas fica menos magnífico) de formas de criar uma ideia, sem falar que há a em cada sentido bem mais do que duas formas de observar o mundo.

Por este motivo, uma palavra ou gesto, uma forma de expressão sempre é omissa, quando não é, depende da interpretação e quem recebe a mensagem, sendo omissa por não levar em consideração a interpretação de cada um, ou ainda se levar, entramos noutro problema: quem disse que naquele momento e daquela vez, a pessoa que interpreta primeiro o visual vai começar pelo visual e não pelo auditivo desta vez? Entramos assim na probabilidade e tornasse possível e não certo o acerto.

Assim terminamos com esse passeio agradável pelo universo das palavras, até mais moçada. Adeus.

Agora, se tu for chato a ponto de não estar satisfeito, teremos que entrar no mundo dos movimentos cara.

Como você percebeu, todos os sentidos são percebidos pelos movimentos. Uma cor muda para outra, um cheiro vira outro, tem coisas que vemos e não ouvimos, como o sol, outras ouvimos, mas não vemos, como uma explosão escondida, outras tateamos mas não vemos nem ouvimos (ao menos sempre) como o ar, outras tem gosto mas não som. Mas de fato, todas elas têm os cinco sentidos e a percebemos dessa maneira.

Por exemplo, o ar. Não vemos. Qual o som dele? Quando venta se escuta. Qual o tato? Frio, quente, com pequenas partículas que entram nos olhos os rasgando em uma sensação gostosa de desespero maternal. Ou seja, cada coisa que vemos, as vemos pelas completudes de nossos sentidos, se somos cegos, sem a visão, mas na completude dos outros. Se surdos, sem audição, mas de análoga maneira.

Assim percebemos o mundo, pelos sentidos, e dos sentidos imaginamos ou para lembrar, ou para prever. Lembra de sua primeira camisa? Então montamos em nossa mente uma ideia com o que já experienciamos. Imagine uma borboleta com teta de vaca, assim prevemos algo que pode existir. Sempre pautado no que já conhecemos da realidade.

Tudo muito bonito, muito maneiro. Mas o que nos move? Por que fazemos isso? Por que percebemos?

Em primeiro lugar, quem é você?

O que quero dizer, uma pedra que você viu hoje, amanha, será uma pedra que você viu ontem e em uma semana será a pedra que você viu a uma semana. Ou seja, sua percepção altera o que você conhece da pedra, pois se eu pegar duas pedras idênticas, só que sendo uma delas a que você já viu a varias semanas e você souber disso, me dirá que uma é a que você viu a uma semana e a outra a que viu agora mas parece com aquela que já tinha visto.

O mesmo ocorre com sua mão, se cortarem ela, será ainda assim sua mão. E se queimarem a mão cortada, será o pó de sua mão o que restará. E se misturarem esse pó com cocaína e cheirarem, será o pó de sua mão que estará nos pulmões e tampas de vasos sanitários por ai. Aquele pó tem uma história. Isso primeiro nos mostra que não há igualdade no mundo, tudo é de alguma forma diferente.

Então, quem é você?

Há palavras que não a vemos no mundo. Por exemplo, nada. O vemos como algo retirado do lugar, ou como ausência de algo que deveria estar ali. Na frase, no copo não tem nada dentro. Tem ar, tem espaço, tem qualquer coisa que nossos sentidos percebam. Quando apagamos a luz não vemos nada. Bem, eu vejo tudo preto, e preto é uma cor, então é algo. Essa ideia de nada, como uma ausência total, isso não temos. Palavras semelhantes são bonitas, mas se referem a coisas compreensíveis e aparentemente menos sublimes, como tudo, infinito, Deus, determinado, indeterminado.

Te pergunto novamente, quem é você? Pois me responderá que não crê ser algo fixo como seu corpo ou seu nome, ou fatos do passado, como o cara que ganhou o campeonato de truco no colégio, pois sempre tu está em mudança. E o que é essa coisa em mudança sempre presente em sua vida? A vontade.

Como já vimos, seria complicado afirmar que tu és dono de sua vontade ou se tu és determinado por ela, uma vez que nem consegue imaginar o que essas coisas significam. Pois te digo o seguinte: É questão de fé. Não gostou? Reclame com Deus ou aceite outra teoria, claro, fazer o que.

Mas o fato é que o conhecimento humano esbarra em uma parede que não consegue ultrapassar. Só pode conhecer o que pode conhecer. O que não pode conhecer não conhece. Uau, magnífico!! E o que pode conhecer? O que está à altura de seus sentidos, de resto, somente pensando ao criar fórmulas (relacionando tudo o que se percebeu pelos sentidos) ou nas revelações divina.

Mas o que é essa vontade que move o homem a querer até mesmo entender a si mesmo?

Um carro sem combustível se move, caso o dono queira empurrá-lo até o posto. Mas um carro não se move se não houver vontade de o empurrar.

A vontade é o combustível humano. Uma vida humana surge da vontade de ao menos uma pessoa. É a vontade humana que faz nela surgir a alegria, a tristeza, os sentidos. Não estamos falando, claro, de como ela surgiu, pois parece estar alem de nossa compreensão, apenas pela fé revelada. Mas pela vontade percebemos que há o que queremos e o que não é o que queremos.

Por hora, está bom. Pois comunicação é omissão, um dos problemas mais profundos da realidade, uma vez que ela ignora que quando digo “eu entendo o que você disse” não sabemos, na maioria das vezes, nem quem somos.

Um abraço especial aos falecidos George Berkeley, Thomas Hobbes e Santo Agostinho, aquele abraço e até breve.