Em busca de nutrição
O mundo está repleto de muitas oportunidades. Podemos escolher qualquer coisa que quisermos. É claro, há coisas que por enquanto nos são impossíveis como, por exemplo, comprar um lote de terreno em Marte. Porém, os nossos limites de possibilidades se expandiram enormemente nos últimos anos. Acredito que quem viveu há cem anos, caso retornasse à vida, em muito estranharia o mundo de hoje tanto quanto um homem pré-histórico que, ao ser descongelado, poderia ficar aturdido com uma realidade totalmente desconhecida. Fato é que temos muitas opções. Parece que estamos diante de uma mesa farta. Uma mesa com frutas e legumes, mas também com lanches e salgadinhos. Uma mesa vasta e aparentemente infinita que pode até mesmo nos deixar confusos quanto ao que escolher. Tamanha é a oferta a qual temos acesso.
Canais variados no YouTube, perfis diversos no Instagram, uma multidão de pessoas falando de forma rápida e veloz em vídeos do TikTok. Muita coisa. Muita gente. Muito falatório. Muita informação. É tanta coisa que, se tivéssemos que listar o que é que já vimos hoje nas redes sociais, acho muito improvável que nos lembrássemos de todas. Isso quer dizer que somos bombardeados por uma infinidade de estímulos e, muitas vezes, nem assimilamos aquilo que veio até nós. E o pior. Em muitos casos nem nos sensibilizamos pelo que tínhamos que nos sensibilizar. Isso porque não temos tempo. Nem paciência. É tudo tão rapidamente acessível que pouco absorvermos do mundo. E assim acabamos desnutridos.
Acabamos desnutridos, ainda, porque muito do que é ofertado não tem sustância, não tem vitamina, é vazio de nutrientes. É como abrir um pacote de pipoca. Ela até pode tapear a fome, momentaneamente, mas não irá nos nutrir. E se comermos apenas pipoca todos os dias nosso corpo sentirá a falta de vitaminas que encontramos em frutas, legumes e em tantos outros alimentos. Acontece o mesmo com esse domínio das redes sociais sobre a nossa mente. Tem tanta gente vazia, oca, compartilhando tanta coisa superficial e frágil que acabamos sem referências estruturadas e fortes que nos nutram com aquilo de que verdadeiramente necessitamos para nos aprimorar, para nos aperfeiçoar, para que possamos obter alguma nutrição enquanto vivemos.
Mas a culpa por acabarmos desnutridos não é daqueles que pulverizam uma série de frases de efeito, por exemplo, ou um monte de vídeos sem sentido nos dizendo para encontrar a nossa “melhor versão” pintando-a como um ideal de perfeição. A culpa é nossa quando consumimos esse tipo de “alimento”. Ninguém nos obriga, apenas nos deixamos levar e, o pior, passamos a colocar esses conselhos como um mantra em nossas vidas. Acabamos frustrados. Isso porque as frases de efeito se mostram tão leves quanto uma pena que é carregada pela brisa suave. E a busca pela “melhor versão” nos faz ficarmos em uma comparação incessante que apenas nos diminui.
Não que frases motivacionais não possam ter efeito.
E não que “melhor versão” seja um papo digno de toda a desconsideração.
O problema é que essas coisas são vendidas sem um fundamento, sem uma sustância, sem o valor nutricional que todo bom alimento possui.
Filtre o que você tem consumido. Uma vida vazia pode ser sinal de falta de nutrição a partir daquilo que o mundo oferece. Porque se por um lado há muita coisa banal sendo vendida, também há muita gente centrada e razoável compartilhando coisas que verdadeiramente nos nutrem. O problema é que essas coisas às vezes são amargas e nos fazem enxergar a nossa responsabilidade diante da vida. Mas é isso o que faz efeito. É como o remédio que, no começo, amarga a nossa boca, mas então, cumprindo com o seu processo, liberta-nos de alguma dor!
Não que não possamos comer um lanche bem gorduroso no sábado à noite.
O problema é que ultimamente só temos comido isso.
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)