O Equilíbrio da Alegria: Entre a Partilha e o Silêncio
Amplificação, esse termo estranho e inquietante, ressoa como um eco que percorre os corredores do meu espírito, onde as sombras da alma se escondem e revelam em um jogo cruel de esconde-esconde. É ali, nessas recônditas do ser, que se oculta a fagulha — aquela centelha quase imperceptível, mas poderosa, que nos impele a sofrer ou a comemorar. Que momento mágico ou trágico será este em que o desejo de partilhar se avoluma dentro de nós, transformando a solidão da alegria em uma necessidade quase visceral de exalar ao mundo o nosso júbilo? Pergunto-me, com a curiosidade de um cientista que disseca a mente humana, se tal partilha traz, de fato, a prometida multiplicação da felicidade ou se, porventura, não esconde um perigo sutil de desequilíbrio, de onde o peso dos extremos acaba por nos esmagar.
Não me contento em observar, de longe, esse fenômeno, mas anseio por mergulhar nas profundezas do meu ser, onde as raízes da emoção se entrelaçam com os ramos do pensamento. De onde brota, afinal, essa urgência de partilhar a felicidade, como se a mesma, por ser guardada em segredo, fosse um veneno que nos corrói por dentro? Será que a alegria só encontra seu verdadeiro valor quando ecoa no peito de outro, reverberando como uma nota que, ao encontrar outra, forma uma harmonia? Ou será, talvez, que esse impulso de compartilhar não seja senão uma tentativa desesperada de validar nossa própria existência, como se o sorriso de um estranho pudesse, de alguma forma, confirmar que a nossa felicidade é real, e não uma ilusão passageira?
No entanto, à medida que examino essa necessidade de partilha, percebo um dilema perturbador. A mesma moeda que ostenta a face da alegria, traz, do outro lado, o semblante sombrio da tristeza. E se a alegria, quando compartilhada, se multiplica, o que dizer da tristeza? Será que, ao conter a tristeza dentro de mim, estou me protegendo ou, ao contrário, criando uma prisão de onde jamais conseguirei escapar? A balança, ao tentar equilibrar esses dois pesos, parece pender para o lado mais escuro, como se a tristeza, ao contrário da alegria, tivesse uma gravidade própria, que a faz pesar mais, mesmo quando oculta.
Hoje, decidi algo que talvez soe como um paradoxo: que a alegria, ao findar, deve permanecer encerrada em si mesma, não por egoísmo, mas por um desejo profundo de preservar sua pureza. Decidi que, se um dia eu tropeçar e o sangue escorrer dos meus pés, não deixarei que essa dor se multiplique, arrastando outros na sua correnteza. E se, por acaso, a consequência desse ato for não compartilhar a própria alegria, que assim seja. Pois, em algum ponto de nossas vidas, aquilo que nos faz feliz emerge como um broto tímido, e talvez, ao compartilhá-lo, corramos o risco de arrancá-lo pela raiz.
É curioso, porém, que ao adotar essa postura, me vejo numa encruzilhada: evitar a partilha é, de certa forma, isolar-se em um mundo onde as vozes se apagam e as cores desbotam. Estarei, então, condenando-me a um silêncio que, longe de ser uma bênção, pode se transformar em um fardo insuportável? Ou estarei, ao contrário, criando um refúgio onde a minha alegria pode florescer em paz, sem o risco de ser contaminada pela dor alheia? Pensar tudo isso sozinho é uma tarefa hercúlea, uma luta interna que consome as forças do espírito, mas, ao mesmo tempo, é uma busca necessária para entender onde reside o equilíbrio entre o ser e o estar.
Por fim, resta-me a reflexão sobre o que significa realmente compartilhar. Seria, no fundo, uma tentativa de aliviar o peso da existência, dividindo-o com os outros? Ou seria uma busca incessante por reconhecimento, onde a nossa felicidade só adquire sentido quando refletida no olhar de quem a testemunha? Seja como for, hoje me permito caminhar por essa linha tênue entre a partilha e o isolamento, na esperança de, um dia, descobrir onde se esconde a verdadeira essência da felicidade — talvez seja aquela que não precisa de aplausos para existir.