A sutileza do fim
Quando ele me encontrou, seus lábios fizeram movimentos diferentes na hora de contar sobre o dia. Os suspiros eram maiores, e o contato visual, que antes duravam minutos intermináveis, tornaram-se raros e eram divididos com os olhares de qualquer detalhe no ambiente. Eu o vi gastar mais tempo olhando para a rachadura da parede, que vivíamos dizendo que consertaríamos do que para os meus olhos. Os elogios, que antes eram espontâneos, foram substituídos por sorrisos quebrados, sem mostrar nenhum dente e um levantar de sobrancelhas. Os almoços juntos na mesa tornaram-se breves, ocasionais. As tradições de domingo foram perdendo o sentido. Não havia mais estímulo, trabalho ou admiração. O nó na garganta tornou-se constante e a certeza de que o amor foi substituído também. Dizem que o oposto do amor é o ódio, mas na verdade, é a indiferença. E ali tinha muita. O fim nos acolheu, silenciosamente, pois não valia mais a pena gastar tanta saliva em vão. E assim se consumou, uma história viva e colorida, em cinzas jogadas ao chão.