Gavetinha

Às vezes, visito minhas gavetinhas.

São quase 40 anos, em que sofri, construí e perdi: mas amei profundamente.

Visito algumas gavetinhas por impulso de pensamentos ou músicas, que as ondas do dia ou o canto dos passarinhos promovem.

Abro um sorriso de canto de boca, e quase, o inenarrável acontece:

__Olha lá eu! Sorriso desarmado, feliz como pinto no lixo com a novidade do amor e da vida!

__Olha lá, Alá eu!! pés na grama correndo, como se o pasto fosse o centro do mundo. Um pedacinho do inferno só conhecia, quando pisava num espinho de coqueiro.

Olho lá, eu, de luto! Um peso cinza cai-me nos lombos: mas num lenço, embrulhado, há uma fragrância com notas de todo amor dedicado e recebido. Fecho a gaveta.

O que fui e o que sou, são indissociáveis na minha essência; mas o que fui, me mataria, se eu não aproveitasse e valorizasse tudo o que sou e tenho agora.

Poeta de Borralho
Enviado por Poeta de Borralho em 24/08/2024
Código do texto: T8136092
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