Gavetinha
Às vezes, visito minhas gavetinhas.
São quase 40 anos, em que sofri, construí e perdi: mas amei profundamente.
Visito algumas gavetinhas por impulso de pensamentos ou músicas, que as ondas do dia ou o canto dos passarinhos promovem.
Abro um sorriso de canto de boca, e quase, o inenarrável acontece:
__Olha lá eu! Sorriso desarmado, feliz como pinto no lixo com a novidade do amor e da vida!
__Olha lá, Alá eu!! pés na grama correndo, como se o pasto fosse o centro do mundo. Um pedacinho do inferno só conhecia, quando pisava num espinho de coqueiro.
Olho lá, eu, de luto! Um peso cinza cai-me nos lombos: mas num lenço, embrulhado, há uma fragrância com notas de todo amor dedicado e recebido. Fecho a gaveta.
O que fui e o que sou, são indissociáveis na minha essência; mas o que fui, me mataria, se eu não aproveitasse e valorizasse tudo o que sou e tenho agora.