Não fique onde não podem aceitá-lo

A vida é passageira. E bem sei que já conversamos sobre isso por aqui. Mas quero acreditar que sempre precisamos reforçar esse grande fato que nos persegue sem que percebamos. Isso porque, em muitos momentos, deixamo-nos levar pelo receio, pela insegurança de frustrarmos aos outros e, assim, renunciamos ao nosso direito de nos fazermos felizes e sermos felizes com pessoas que a nós são verdadeiramente especiais e importantes. Escondemo-nos. Negamos a nossa vida. Damos às costas aos nossos sonhos e não confessamos as nossas vontades. Desistimos de nós. Abrimos mão da nossa vida. Tudo pelo medo do julgamento. Receio pela reprovação.

Só que a vida é ligeira e não vale à pena deixarmos de realmente passar por ela porque talvez nos apontem dedos por simplesmente vivermos a nossa verdade. Não é justo. Seja qual for a sua verdade. Se ela não fere os outros, se ela não impede a existência dos outros, então onde está o problema? Eu não vejo nenhum. E não consigo entender aqueles que se importam tanto por escolhas que não lhes dizem respeito. Incomodam-se pela cor dos cabelos dos outros. Agitam-se pela fé que os outros professam. E descabelam-se ao descobrirem quem é que os outros amam. Coisas tão particulares e individuais. Coisas que cada um, em sua própria particularidade e individualidade, deveria ter a liberdade de viver.

Mas também sei que não é tão fácil virar a chavinha e deixar de lado aquelas tantas opiniões, aqueles tantos e incessantes falatórios. Resta-nos, portanto, descobrir porque é que nos importamos tanto com o que acham ou deixam de achar a nosso respeito. Qual é o valor que damos às opiniões alheias? Como é que recebemos os julgamentos dos outros? Qual o peso que garantimos aos falatórios daqueles que nos cercam? E, por fim, precisamos entender o poder que estamos permitindo que tenham sobre nós, nossas vidas e nossas escolhas. Poder do qual precisamos nos libertar se realmente estivermos dispostos a uma vida autêntica, livre e criativa.

O processo é doloroso. Isso porque ao nos convencermos de que não há tempo para outra coisa senão para ser feliz, começamos a fazer escolhas em nome dessa felicidade. Escolhas que, no entanto, poderão ir no sentido completamente contrário às expectativas que a nós são demandadas. Lembremo-nos, porém, que tais expectativas não nos consultaram antes de serem formuladas. Ao contrário. Simplesmente se constituíram desconsiderando quaisquer que fossem os nossos reais anseios. Portanto, devem ser ignoradas. E vai doer. Vai doer ignorar aqueles que, em muitos casos, possuem algum valor em nossas vidas. Mas se também tivermos valor nas suas, eles encontrarão uma forma de, com toda a nossa singularidade, acomodar-nos em seus corações. Não lute para ficar onde não podem aceitá-lo. Antes se acomode naquele lugar que se esforça e não se incomoda em se ajustar a fim de recebê-lo do seu jeitinho, sem recortes ou amassados, simplesmente do seu jeitinho.

(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)