Um pórtico para os conflitos(IN)existenciais
Penso que durante a infância, adolescência ou começo da vida adulta, sequiosos por respostas em meio à suas incessantes agruras, todos dariam qualquer coisa para poder interagir, mesmo por meros instantes, com a sua versão do futuro. Digo isso ignorando os riscos de ficar defronte ao melhor modelo de um parlapatão raivoso, com tendência a praguejar balelas para inebriar a mente das pessoas. Da maneira mais pungente, percebi o quanto somos afortunados em, até onde sei, não sermos capazes de estabelecer essa tão complexa interação.
Não me notabilizo como um profundo conhecedor da idiossincrasia humana, mas sempre me questionei o porquê de sermos arrebatados por um sentimento dessa magnitude. A resposta, quem sabe, não esteja centrada no âmbito da vicissitude. O homem é um experimento matizado, a soma de intensas sequências de mudanças. Precisa de adaptação constante a um universo que também desponta como um organismo vivo, estruturado na constante variação. Em outras palavras: é impossível permanecer impassível a esse processo arrebatador.
Como estamos sempre vagando em direção ao futuro, chega um dia em que é possível, com um pouco de imaginação, oportunizar esse derradeiro encontro. Seja ponderando sobre o preço de nossas ações, em um vislumbre ao balaio de infindáveis erros... ou até promovendo um verdadeiro escrutínio com os textos do passado, esboçados dois ou mais decênios atrás.
Como escrevia absurdamente mal, foi a primeira coisa que brotou . O texto se revelou um traquejo desordenado, alicerçado por uma verve pouco inspirada. Ostentava um confuso encadeamento de ideias, algumas vezes cingido por palavras repetidas à exaustão. Definitivamente, como o artífice de uma narrativa daquele quilate poderia galgar qualquer voo mais abrangente?
Apenas um ou outro escrito possuiria alguma relevância, a prova cabal da existência de uma oscilação desenfreada, a nítida dificuldade em manter uma constância. Em contrapartida, inegável que a jornada tenha seu lado assertivo, afinal representa os primeiros passos para uma gradual progressão que espero estar distante de seu ápice.
Ou será apenas que no fim, a jornada do meu EU do passado acabou mesmo sucumbindo diante de minha mais desumana versão futura, praguejando aquelas tão temidas insolências? No fundo, talvez não consigamos tornar infrutífera a tendência de sermos bastante duros consigo mesmos, com enfoque mais abrangente nas lacunas em detrimento às potencialidades.
Um sábio conselho: jamais busquem vaticinar uma interação com sua versão futura, sob pena de ser, assim como eu, assombrado pelos próximos dias, quiçá pelo restante deles.