A Porta
Há algo de profundamente enigmático nos sonhos, como se fossem portais para um universo paralelo onde o impossível se torna palpável e o cotidiano se veste de magia. Eu não posso negar, sempre me fascinou o modo como eles nos arrebatam, nos conduzindo por cenários que ora nos confortam, ora nos inquietam, mas que, de algum modo, refletem partes de nós que permanecem ocultas quando estamos acordados.
Já vivenciei várias circunstâncias que me fizeram refletir sobre a realidade presente no mundo dos sonhos, mas temê-la e sentir O DEDO DA MORTE foi a primeira vez. A experiência onírica e transcendental foi tão vivida que não se apagou ao abrir dos olhos. Ela permanece comigo como uma marca indelével, algo com um significado profundo, mas indecifrável.
Despertei dessa experiência fatídica com a sensação de ter tocado outro espaço-tempo, algo além do entendimento imediato. Os detalhes da vivência dessa experiência onírica entrelaçaram-se à minha mente, como peças de um quebra-cabeça incompleto. Não nego que tentei afastá-las, entretanto, quanto mais eu resistia, mais as fugidias imagens revelavam em minha mente suas garras aprisionantes, elas de certa forma, queriam sussurrar segredos que eu ainda não estava pronta para ouvir.
Demorei para entender e compreender que a vivência surreal e onírica não é apenas um reflexo do meu inconsciente, mas uma mensagem mais profunda, que fala diretamente à minha alma. No entanto, aos poucos, com o passar das noites, as novas experiências me levaram a outros mundos, menos tenebrosos, mais reflexivos. Assim, aceito que certos “sonhos” não são para entender de imediato, mas para serem vividos, sentidos e, sobretudo, respeitados. Eles nos desafiam a nos confrontar com nossas verdades mais íntimas, a explorar os recantos mais profundos do nosso ser e, em última análise, a nos reconectar com aquilo que nos torna humanos ou, que ainda nos fazem transcender, viajar para outro espaço-tempo.
A experiência que me deixou por tantas noites sem dormir, foi um ponto de partida para algo além das minhas faculdades mentais. Conquanto, ainda com medo e sem querer, continuo a trilhar, pois uma porta se abriu para um caminho. E, embora muitas vezes o caminho seja nebuloso, há uma certa beleza intrínseca na busca, na tentativa de entender o que ocorre no mundo dos sonhos.