Cada dia o seu dia
Às vezes tenho a sensação de que o tempo que temos é muito curto. E quero acreditar que você também tenha essa sensação em certos momentos. Parece que as vinte e quatro horas a nós disponibilizadas todos os dias são insuficientes para o tanto de coisas que aparentemente temos a fazer. E digo aparentemente porque, embora tenhamos a sensação de tempo ligeiro, não prestamos atenção no tanto de coisas que a nós são ofertadas a todo instante. E, detalhe, queremos desfrutar de todas essas ofertas. É o filme novo que foi lançado, é a nova temporada da série que vínhamos acompanhando que finalmente foi disponibilizada, é aquela maratona que sentimos que temos que fazer no canal que há algumas semanas não visitamos, é o lugar novo que abriu em nossa cidade e que ainda não conhecemos, são as atualizações que precisamos acompanhar no Instagram antes que fiquemos para trás. Essa é a questão. Nesse mundo de tantas ofertas e inconstâncias sentimos medo de acabar desatualizados e sem assunto.
Para darmos conta de tantas demandas, então, acabamos ou vivendo com pouca profundidade aquilo que a nós é apresentado, tendo sempre a sensação de que não vivemos o bastante, ou deixamos de viver coisas realmente importantes e significativas para conseguirmos dar conta daquilo que, ao acabar, nos deixa com o questionamento: “era só isso?”. Então começo a pensar que o tempo pode ser suficiente, afinal de contas, a humanidade sempre teve essas mesmas vinte e quatro horas que nós e sempre existiram homens e mulheres geniais que com o seu tempo construíram uma vida satisfatória em seus termos. Talvez não tivessem tantas distrações, nem se cobrassem tanto por se manterem “atualizados” com as aleatoriedades de nossa época. E, portanto, fizeram um bom uso do tempo que tiveram.
E aqui surge, então, a grande questão. Gosto muito de trazer algumas ideias existenciais em nossas reflexões. E dentre tais ideias, a de que somos tremenda, inquestionável e inegavelmente responsáveis pelas escolhas que fazemos, pela forma com a qual vivemos nossas vidas. O que inclui o uso que fazemos do tempo que nos é concedido. Nós decidimos como é que iremos vivê-lo: se ocupando-nos por aquilo que nos é nutritivo ou por aquilo que, daqui pouco tempo, já nem será lembrado. Temos vivido numa época de muitas ofertas. Isso não é de todo ruim. Afinal de contas, em um sábado qualquer, que você esteja disposto a economizar um dinheirinho para conquistar aquele carro novo, você pode simplesmente abrir sua Netflix e, dentre as milhares de opções, escolher a algum filme que possa ser assistido do conforto do seu sofá, sem precisar se preocupar em pagar ingressos, estacionamentos, combustível e sem o risco de cair na tentação de, caminhando pelos corredores do shopping, acabar fisgado por alguma loja. Em contrapartida, essa vastidão de ofertas por vezes nos lança às incertezas do que escolher ou então naquela ânsia e pressa por desfrutar do máximo de coisas que conseguirmos. É aqui que precisamos de cautela. Que bom que temos muitas opções! Será ainda melhor se fizermos escolhas conscientes com o que é que precisamos e buscamos naquele momento. Nada de viver tudo de uma vez. Mas a cada dia o seu dia!
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)