Mudar o mundo?

Já tive essa utopia

Na minha longínqua mocidade era normal essa pretensão

Isso implicava num caminhão de frustrações

Todas as causas grandes e revoltas

Continuam presentes

Estão guardadas num velho baú empoeirado

Do duelo entre romantismo e realismo muitas vítimas padecem

Eu sou um dos sequelados

Sobrevivi com severas dificuldades

Hoje meu aleijo me imobiliza a reagir com entusiasmo a qualquer novidade teórica

Tudo que já era pra ser dito já foi dito

Meu ceticismo só cede quando contemplo o sorriso dos inocentes

Ou escuto o canto dos pássaros

Nada adulto e humano me contagia

Ao contrário,

Tenho ojeriza a reuniões, partidos e igrejas

Nenhuma causa me causa ternura

Apenas a candura

Somente a bravura dos corações incoentes frente ao mundo me lava a alma

Me salva da amargura da vida dura

Na semeadura das ideias e da euforia

Me embriaguei com alegria frente a cortina de fumaça

Eles almejavam algum metal pra levar pra casa

Eu queria construir uma praça

Jardins e escolas

Brincar de bola

Regar um pomar

Agora estou guardado em meus muros

Esmurrando as ideias pra entender com o egoísmo venceu essa batalha

Todos estão em casa

Ilhas desertas

Cegos navegando no mar desigualdade

Gélidos contemplando a inanição social

Sei que o mundo vai mal

Mas já não quero mudá-lo

Sou apenas uma formiga

Sim apenas um rapaz latino-americano

Um suburbano sem poder

Um menino que cresceu e já não sabe onde estão os amigos da rua

A esperança anda nua

Violentada e amordaçada

Apenas com as crianças que vejo uma réstia de semente

O projeto é longínquo pra uma vida curta

Um dia o sol volta a brilhar

E a praça ficará cheia de gente

Marcos Frank
Enviado por Marcos Frank em 17/08/2024
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