Brincando com os contrastes

Um vento cortante fez um reboliço no fundo do quintal. Era noite e a bicharada, atônita, promoveu uma correria desenfreada, ficaram 'batendo cabeça' sem entender o que, de fato, estava ocorrendo.

 

Nos céus, numa performance bem ligeira, uma estrela cadente chamou a atenção, mas logo sumiu e sua passagem, também rapidamente, foi ignorada.

 

Ao longe, ouvia-se sons de folhas secas sendo pisadas e, aos poucos os tais ruídos pareciam mais audíveis, portanto, a origem desconhecida daqueles sons estava bem mais perto que antes, tal aproximação era preocupante, já que poderia carregar em si algum perigo.

 

O temor naquele momento fazia com que até mesmo a respiração fosse impedida, a fim de que nenhuma pista fosse dada para aquela presença indesejável.

 

De repente, parou o vento e nenhum som sinistro foi ouvido novamente, não demorou muito e o dia amanheceu. A calmaria, assim, voltou.

 

Que cena intensa e cheia de suspense! A descrição do vento cortante e da correria da bicharada traz uma sensação de urgência e desorientação, quase como se o quintal fosse um microcosmo de uma grande tempestade emocional.

 

A maneira com a qual foi retratada a natureza, a sua reação ao ambiente, com os animais em pânico e a estrela cadente que, tal qual surgiu foi rapidamente esquecida, dá um tom melancólico à passagem do tempo e à efemeridade dos momentos.

 

A tensão se agiganta com os sons oriundos das folhas secas sendo pisadas, evocando uma presença desconhecida que se aproxima, sabe-se lá porquê.

 

Essa construção contínua de expectativas nos faz sentir o medo palpável que permeia a cena. A ideia de conter a respiração para não dar pistas àquela presença indesejável é um detalhe poderoso que reflete o instinto de sobrevivência diante do desconhecido, como se fosse um último esforço pela vida.

 

Quando o vento para e os sons sinistros cessam, a calmaria que se segue traz um alívio momentâneo, mas também deixa uma sensação de que algo poderia voltar a acontecer. Nada como o aurorescer para a ilucidação de todo o ocorrido, bem como o consequente reequilíbrio de todas as emoções. Enfim, tudo ficou bem.

 

O presente enredo parece propor uma reflexão como se estivesse brincando com o contraste entre o caos e a tranquilidade, enfatizando como a vida é feita desses altos e baixos.