Salvação
Certa vez inventei de praticar boxe. Sentia uma raiva imensa contida. Queria bater, sem culpa, em pessoas desconhecidas e sem nenhum motivo. Em um contexto supostamente, adequado.
Só para saciar minha vontade de bater. Bater pra valer e evitar de apanhar. Não gosto de sentir dor. Pelo menos, não dessas dores físicas, fúteis e banais. Sofro de dores maiores, mais inúteis e infindáveis. Mas no fim bati e senti compaixão e arrependimento ao ver nos olhos do outro a dor no rim e então parei. Não fui mais nos treinos perdi a vontade de bater. Doeu em mim e não valeu de nada. A raiva não passou, a tristeza não passou, o vazio não passou. Só mesmo passou a vontade de bater em pessoas sem motivos.
E o boxe salva! Ainda está gravado em dourado em meu moletom, em minhas camisetas bem na altura do coração. Salvou-me de mim mesma, salvou-me de ser selvagem já que as técnicas pra bater bonito não as aprendi. As técnicas! Ah! As belezas das tal técnicas...