Mar
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Buscando, esperando, qualquer presença sua
A abstinência me congela, me invade
Aquele gostinho de sangue vem na boca
Planos e planos e planos
Busquei hoje por aquela contagem regressiva
Dos mil dias, nem cem foram completos
Dois fracos, pobres de espírito, perdidos
Se entretendo em atividades podres do dia a dia
Essa porra não vai dar em nada
De outros cem dias, meus, eu não completarei cinquenta
Na verdade, acho que serão cinquenta e um
Que aquela água me leve, me tome de mim
Que o vento me torne pó novamente
Pois me disseram que dele eu vim
Inclusive, estudo intrigante, tão complexo
É engraçado porque essa dependência que tenho
Por aqueles pequenos olhos, cruéis e impiedosos
Não que é essa dependência seja tudo
Mas quando a abstinência bate, ela rege todo o resto
Ela quem guia o que faço e o que deixo de fazer
E não tenho tido tempo para pausas
Minhas coisas atrasam
Minhas contas atrasam
E eu vou ficando pra trás
O medo domina essa fraqueza
E me encontro no outro dia
Bêbada e de ressaca
Abusada e desorientada
Com nojo, com ódio e com desprezo pela
Única relação que eu deveria ter respeito
Nunca ninguém irá me desprezar como eu costumo fazer
Antes eu implorava aos céus que me tirassem daqui
Nunca fui ouvida, sempre senti que Deus tinha mais
O que fazer do que me ouvir
Sou nada além da sombra da figurante
Que passa por um milésimo de segundo na cena
De costas, só o vulto
Enquanto estrelas e planetas brilham no palco principal
Me atrevo a dizer que Deus nada fez que eu pudesse enxergar
Talvez eu seja cega, nunca o veja
Mas se meu pedido de me tirar daqui não é atendido
Eu peço ao mar, quem sabe ele me atende
Vou torcer, vou tentar
Que assim seja, amém
Sem vícios, sem dependências
Sem contas, responsabilidades, pressão
Sem o gosto da cerveja, do vinho e da sua boca
Só o vazio, o nada, a graça do nada
Só o pó, aquela expressão engraçada
Que assim seja, amém