MAHENDRA

MAHENDRA I – 7 JUN 2024

Como é comum o véu que o dom do solidéu

apaga num instante!

Como é comum o arpéu que à bênção desde o céu

revoga o celebrante!

Quão breve é o casamento, apenas um momento

de permissão legal,

mais longo o julgamento que surge em seguimento

do tédio natural.

Amor é frágil flor, precisa o seu vigor

ganhar constante rega,

Amor quão frágil flor e o adubo desse ardor

é o carinho que se lega,

Enquanto o matrimônio, igual que o patrimônio

precisa ser cuidado,

Enquanto o matrimônio, por artes do demônio,

é logo destroçado!

Envolve-se em sudário se não for solidário

o mútuo sentimento

E desce ao ataúde, quando o casal se ilude

de que tudo já está feito...

A cerimônia é breve e a gente até se atreve

a pensar em eternidade:

Qualquer frase desatenta a taça fragmenta

em amargo julgamento

E surge a dura, lenta, amarga essa disputa

nos palpos do direito,

Enquanto o bem se esquece, veloz como uma prece

envolta em falsidade!

MAHENDRA II – 8 JUN 2024

E mesmo nessa ausência, sacramental potência,

carinhos se requer,

A chave do favor, que não se arranca amor

do peito da mulher,

De fato, amor se planta, enquanto se descanta

e molha diariamente;

Na ausência do regar só poderá murchar

a haste mais potente.

Mas sem a garantia, o ciúme desconfia

do valor desta ternura

E para não o perder, há esforço que fazer

para evitar agrura

E assim de parte a parte, evita-se o descarte

fugaz de algum desejo,

Demonstração de apego, não mais o amor cego

que nos traz primeiro beijo!

Mas quanta vez ocorre, depois que nos decorre

o vale e a assinatura,

Que amor tenha descanso apenas num remanso,

envolto em aconchego,

Que se pense em direito após o ato perfeito,

falácia só de apego!

E mesmo nessa ausência, sacramental potência

da ternura se requer,

A chave do favor, esse eliciar do amor

do ventre da mulher

E assim amor se planta, quando o sexor descanta

igual que diária ordenha,

Na ausência desse amor, partilha de vigor,

num ato que nos venha.

E ocorre o esvaimento, em lento descaimento

da emoção mais pura,

Cada um no seu trabalho, na força do ato falho,

qualquer descaso cego

E a cornucópia de ouro se perde no desdouro,

estilhas de loucura!

MAHENDRA III – 9 JUN 2024

Por onde andará o amor no pálido estridor

da vida em separado?

Por onde andará o amor na vida sem pudor

do sexo apressado?

O que fará Cupido, ao ver-se desmentido,

assim diariamente?

O que fará Cupido, ceguinho desvalido,

no fervor concupiscente?

Por onde andará o amor, se a rega do escritor

foi toda desmentida?

Por onde andará o amor, se o seu maior valor

é apenas descumprido?

Quem nos dirá então que exista coração

no sexo hormonal?

Quem nos dirá então se existe assim paixão

no sexo comunal?

E quando assim nos vemos, condenar sequer podemos,

só ter perplexidade,

Nas práticas tribais das seitas canibais

de total carnalidade,

Os piercings e as tatuagens a demarcar visagens

em cada corpo e face,

Tal qual se a tecnologia a nós humilharia

em falsa humanidade.

Um tipo de terror, a queda desse andor

por práticas perdidas,

Nas noites temporais retrograções fatais

das carnes esquecidas?

MAHENDRA IV – 10 JUN 2024

Por onde o romantismo perdido nesse abismo

da desintegração?

Por onde o romantismo, não mais que o saudosismo

de minha obstinação?

Renovada a violência, tomada de impaciência,

sempre a me acompanhar,

Renovada virulência, ao ritmo da ciência

pretendemdo ultrapassar?

Por onde a esperança, que o antigo ideal alcança

de haver paternidade,

Por onde a esperança, que causa essa pujança

de Beethoven em surdidade?

Foi apenas letra morta o ideal que assim comporta

de Schiller a patena,

Foi apenas letra morta que à geração conforta

de Napoleão a pena?

Por todos os amores, teremos ditadores,

teremos genocídios,

Por todos os amores, até os reais horrores

de morte e fratricídios,

Por todos os ideais de poetas imortais,

nada irá nos resultar?

Assim como o lemingue que o suicidio extingue

na falta de homicídio,

Vitoriosos fanatismos em troca de humanismos

nas lutas redivivas,

Que mais posso fazer, ritornello a conhecer,

que ao início retornar?

MAHENDRA V – 11 JUN 2024

Por onde andará ela? A luz de sua janela

para outro se abrirá?

Por onde andará ela? A face que encastela

sorriso mostrará

A outro além de mim? Que meu sonhar, enfim,

não é mais que fantasia...

A outro além de mim... Que seu amor, assim,

final entregaria?

Com quem andará ela? Quem hoje pode vê-la

na saga do desejo?

Com quem andará ela? Quem hoje pode tê-la,

no mosto de seu beijo?

A quem sopra esse vento? Em trânsito o portento

a quem hoje a destina?

A quem sopra esse vento? Anseio um contratempo

que a meu rival malsina!

Será que me recorda? Suspira quando acorda

e vira para o meu lado?

Será que me esqueceu? E o beijo que foi meu

no ar se evaporou?

Com quem ela conversa? Com quem memória tersa

hoje vai compartilhar?

Só lembro em minha vergonha a memória que reponha

meu peito descuidado,

Que embora não a esqueça e hoje ainda padeça

a outrem dá o sexor?

Ao ver tão transitória a fidelidade inglória

na insensatez do amor.