Tarde Solitária.

Repetidamente vejo-me na solidão do velho quintal, a minha direita a Bike. Velha companheira da minha reabilitação quando muitos pensavam ser inviável. A esquerda, o velho som, palco de tantas músicas hoje soando Raul Seixas, que como eu, maluco beleza. A minha frente nada, a não ser pela parede acinzentada cujo meu peito nesta exata hora nublado pela falta de vocês, torna-se cinza.

Paro e olho para Bike relembrando os tantos trajetos divididos ao longo do meu tempo com encontros fundamentais para meu crescimento real, de desencontros que o destino encarregou-se de ocultar por medo talvez de novos rumos, ou, para evitar aprendizados desnecessários à alma, e, com certeza, com trilhas preenchidas pelos passos da juventude, abrindo veredas para um grande sertão de sentimentos confusos, mas, contudo, de estradas hoje na velhice esquecidas ou abandonadas por seguir novos horizontes.

Das cantigas tocadas neste auto-falante de proporções magistrais, certas delas nem sequer fizeram parte do repertório da minha aclamada vida, porém, uma grande minoria, fincaram com tão afinco que a canção Talvez Seja Real de Geraldo Azevedo deixou na lembrança uma vaga memória da perda da realidade vivida entre os meses de Maio à Agosto, ou, de um certo alguém que desde de 2019 ficou estampada como cartaz no meu pensamento exprimindo o doce som de sua voz.

Das lembranças e momentos vividos nos meus cinquenta anos, das vidas que tive nas mãos por amor, ou, capricho, das que não tive, mas, obtive por milésimos de cada segundo de um olhar, vocês, Déboras, Marias, Lêdas, Danielas, Sandras, Lauras,... são o que agora há minha frente vejo, como esta parede estática no meu velho quintal. Uma tarde cinza embora clara, cheia das belezas do jardim em volta, uma tarde vazia por decisões imaturas por uma maturidade esquecida em algum acostamento, ou, simplesmente pelo simples sentar repetidamente solitário deste que vos escreve.

Texto: Tarde Solitária.

Autor: Osvaldo Rocha Jr.

Data: 27/07/2024 às 16:57