Gostar de quem se é
Apesar de sermos seres relacionais, como já conversamos por aqui, e, portanto, necessitados de estabelecermos relações com outras pessoas, não quer dizer que devamos nos submeter a qualquer tipo de relação, muito menos que precisamos aceitar qualquer qualidade de relação. Muito pelo contrário. Relações ruins, mal estabelecidas, de baixa qualidade, podem ser a fonte de muitos dos nossos adoecimentos e sofrimentos. Relações devem ser nutritivas. E devem nos ajudar em nosso crescimento. Uma ajuda mútua. Nós precisamos nutrir aqueles que estão ao nosso lado e aqueles que estão ao nosso lado também precisam ser nutritivos a nós. Caso contrário, acabamos desnutridos, apáticos, adoecidos.
“As companhias certas sempre mostram que é fácil demais gostar de quem realmente é” (Victor Fernandes)
Nossas relações, portanto, precisam ser propícias para que sejamos autênticos. Não que passaremos a viver relacionamentos com pessoas bajuladoras, repletas de elogios, cheias de palavras amáveis que alimentem nossos egos sempre tão vaidosos. Não é sobre isso. É sobre termos a permissão de sermos quem verdadeiramente somos sem o medo de perdermos o carinho daqueles a quem estimamos, o acolhimento daqueles a quem amamos. Sem medo de acabarmos excluídos e isolados. Certos de que nos amam e nos querem exatamente por termos o cabelo que temos, os olhos que possuímos, o jeito que expressamos, o corpo que somos sem exigirem que nos moldemos aos seus ideais ou às suas vontades, simplesmente conscientes de que somos quem podemos ser e que é assim que merecemos ser aceitos.
Não estou falando sobre sermos grosseiros e o mundo que nos aceite.
Estou falando sobre sermos singulares em nosso jeito de existir.
Por que quantos de nós já viveram relacionamentos românticos ou mesmo de amizade e familiares nos quais precisavam se limitar e fingir ser o que não eram? Precisaram utilizar máscaras que retiravam todo o seu verdadeiro brilho. Precisaram se revestir por vestidos pesados demais para a leveza com a qual gostariam de viver suas vidas. Não puderam ser quem eram. Não puderam sorrir de verdade. Não puderam usar as palavras que gostariam. Não puderam viver uma vida autêntica. Antes precisaram se submeter às exigências de um mundo sempre tão insatisfeito e difícil de agradar. Precisaram se sufocar em uma forma de ser que nada tinha daquilo que realmente gostariam de manifestar ao mundo.
É diferente de estarmos ao lado de pessoas que nos ajudam a nos amarmos por sermos quem somos. São pessoas que não tentam nos mudar ou moldar. São pessoas que buscam nos compreender e entender. Ainda que cometamos alguns deslizes, e ainda que tenhamos algumas maneiras pouco agradáveis. Não nos rotulam nem nos definem. Antes nos acolhem e procuram nos mostrar que talvez existam outras maneiras, mas não sem antes procurarem nos compreender quanto aos motivos que nos levaram a agir como agimos. Pessoas acolhedoras e respeitosas. Pessoas que sabem valorizar a existência do outro entendendo que é exatamente sobre isso o que se trata: a existência do outro!
Se está difícil se aceitar, talvez você não esteja na companhia das melhores pessoas para o alcance de tal objetivo. Reflita sobre suas relações. Reflita também sobre a sua própria forma de estar em relação com os outros. Nossos relacionamentos, repito, precisam ser estabelecidos com pessoas que não tentam nos reconstruir a partir de seus próprios princípios. Só vale à pena estar ao lado de alguém que nos aceita como somos e que por nós é aceito como é. Nessa de termos permissão para ser, podemos descobrir outras formas para existir.
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)